A LITURGIA DE PENTECOSTES
Diácono Wallace Andrade Teixeira
Aproxima-se o término do Tempo Pascal, período em que vivenciamos a alegria da Ressurreição e a certeza de que o Senhor está vivo, caminha conosco e permanecerá assim. “Jesus Cristo veio ao mundo para nos tornar ‘participantes da natureza divina’, para participarmos de sua própria vida”(2Pd 1,4). E toda vez que nos dispusermos a ter um encontro com o Senhor, a liturgia nos conduzirá ao mistério da Redenção. “Para realizar tal obra, Cristo esta sempre presente à sua Igreja, especialmente nas ações litúrgicas(…) Presente com sua força, (…) como prometeu ‘estar no meio dos dois ou três que se reunissem em seu nome’ (Mt 18,20). Cristo age sempre e tão intimamente unido à Igreja, sua esposa amada, que esta glorifica perfeitamente a Deus e santifica os homens, ao invocar seu Senhor e, por seu intermédio, prestar culto ao eterno Pai” (SC 07). Por isso é que afirmamos que a liturgia é fonte de vida plena.
Nos últimos dias do Tempo Pascal da Igreja, o Senhor sobe ao céu, mas nos deixa uma promessa, nos garante o céu, mais que um lugar espacial, mas sim uma relação amorosa entre eu e o Senhor, ou seja, entre você e DEUS. Na Pátria celeste essa relação será sem limites, barreiras e obstáculos. Algo acima de nosso conhecimento humano, pois teremos um dia participação plena, total na vida de Deus. Até que se cumpra, temos Deus se aproximando de nós liturgicamente, pois, “na liturgia da terra, participamos, e, de certa maneira, antecipamos a liturgia do céu, que se celebra na cidade santa, a Jerusalém para a qual caminhamos” (SC 08).
E quem nos permite vivenciarmos tal presença é o Espírito Santo, o Espírito prometido por Jesus, que desce sobre nós e nos faz suas testemunhas. Ele é quem abre o nosso coração verdadeiramente à luz de Cristo. Na liturgia, Deus age, por ação de seu Espírito de modo potente e eficiente. Daí a extrema importância de participarmos da Solenidade do dia de Pentecostes. “É preciso que assimilemos seu conteúdo, vivendo tudo o que este dia litúrgico nos apresenta, é preciso aprofundar mais nesta promessa adquirida, fazê-la nossa cada vez mais. Como a estrada que serpenteia ao redor da montanha e assim lentamente a escada em ziguezague até atingir o cume escarpado, assim, nós, voltando a cada ano nesta festa, devemos recomeçar o mesmo caminho dos discípulos, atingindo sempre uma altitude mais elevada até que alcancemos finalmente o objetivo, Cristo” (CASEL, 2009, p.85). Quando se participa de uma ação litúrgica somos arrastados por um movimento superior que não se esgota.
O Cristo que se deu a conhecer, que percorreu esta terra após a sua subida ao Gólgota eressuscitado subiu aos céus. Agora nos envia seu Espírito através de uma presença invisível, todavia, simbólico-ritual através da Igreja a cada filho fiel. Por isso, “devemos celebrar esse mistério de maneira real, imediata, divinamente grande. A nós cabe celebrar não só em pensamentos – eles são sem poder diante das obras de Deus! -, mas na virtude do Espírito de Deus; não unicamente nas luzes da meditação ou nas graças da oração, mas na realidade objetiva e pneumática” (CASEL, 2009, p. 89). O mistério litúrgico de pentecostes representa a realidade viva e permanente da alegria de que o Senhor está conosco.
“É o Espírito de Deus que capacita o homem para a celebração litúrgica. A liturgia é, portanto, essencialmente acontecimento do Espírito. A assembleia de homens para celebrar a liturgia e a edificação da assembleia em Igreja são igualmente um acontecimento pneumatológico” (GERHARDS; KRANEMANN, 2012, p.172). O dom do Espírito é presente e capacita-nos a experimentarmos a nós mesmos como uma nova criatura. Logo, a presença permanente de Cristo em nosso meio e o nosso ir a Cristo e com ele a Deus Pai, só acontece no Espírito Santo. “Redenção realizada e realizadora continuamente da Igreja a partir de Pentecostes, depois realizada ulteriormente em cada alma” (VAGAGGINI, 2009, p. 173).
Façamos como Ele, sendo Ele (Jesus) a todos que nós encontrarmos pelo caminho. Falemos das maravilhas que ele fez a nosso favor e que vivo para sempre está no nosso meio, nas nossas famílias, em nossas igrejas e onde dois ou mais estiverem reunidos em seu nome. Façamos da nossa vida terrena, um novo céu e uma nova terra, pois, o céu é mais que uma recompensa, é a nossa necessidade de estarmos em Deus.
Verdadeiramente na solenidade de Pentecostes, a Palavra viva se faz oração, se assim não for, seremos um evangelho morto e apenas uma organização. Todavia assim clamamos: “Ó Deus que, pelo ministério da festa de hoje, santificais a vossa Igreja inteira, em todos os povos e nações, derramai por toda a extensão do mundo os dons do Espírito Santo, e realizai agora no coração dos fiéis as maravilhas que operastes no início da pregação do Evangelho. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo” (ORAÇÃO DO DIA). Dessa forma, seremos enobrecidos pela geração do Reino de Deus e nossa missão será mais que um compromisso e sim uma ação existencial. O ressuscitado presente pelo Espírito é a nossa força.
Somos cristãos, quando assumimos uma vida nova em Deus pelo Batismo, quando entramos em seu mistério pascal. O discípulo de Cristo “procura essa vida que se fortalece, quando confirmada pelo Espírito de Jesus e quando o discípulo renova, em cada celebração eucarística, sua aliança de amor em Cristo, com o Pai e com os irmãos” (Doc. Ap, 350). Nossa comunidade paroquial, ao vivenciar a liturgia de Pentecostes deve ser testemunha desta nova humanidade que tem sua raiz em Cristo.Esperemos e preparemos a volta do Senhor, amando mais, servindo mais, julgando menos, matando menos e caminhando rumo ao Senhor. Essa é a autoridade dada a Jesus pelo Pai e hoje confiada a nós.
BÍBLIA. Português. Bíblia de Jerusalém. Nova edição rev. e ampl. São Paulo: Paulus, 2002.
CASEL, Odo. O Mistério do culto no cristianismo. 2. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2011. 121 p.
CONCÍLIO ECUMÊNCIO VATICANO II. Constituição SacrosanctumConcilium sobre a Sagrada Liturgia. 11. ed. São Paulo: Paulinas, 2011. 74 p.
CONGREGAÇÃO PARA O CULTO DIVINO. Missal Romano. São Paulo: Paulus, 1992. 1087 p.
GERHARDS, Albert; KRANEMANN, Benedikt. Introdução à liturgia. São Paulo: Edições Loyola, 2012. 344 p.
VAGAGGINI, Cipriano. O sentido teológico da liturgia. São Paulo: Edições Loyola, 2009. 843 p.