Amado padre Waltencyr, Pastor, Pai, Amigo, Irmão,
Autoridades presentes, Familiares e amigos do nosso padre, queridos pirapetinguenses,
Hoje estamos celebrando uma data muito especial, um marco na nossa história, vivenciada entre irmãos na fé, 50 anos de vida sacerdotal. Ser padre não é mérito. É chamado e resposta amorosa a esse mesmo chamado. Deus seja louvado.
O Papa Francisco diz que um antigo professor seu ensinava que uma homilia deve conter ‘uma ideia, um sentimento, uma imagem. Uma ideia: sacerdócio; um sentimento: gratidão a Deus; uma imagem: Padre Waltencyr.
A importância de ser e de se ter um Pastor (Padre) cuidando do rebanho.
“Permanecendo eternamente, Jesus tem um sacerdócio imutável” (Hb 7,24). O sacerdócio só tem sentido se configurado ao de Jesus.
Nos povos civilizados que cercavam Israel como Mesopotâmia e Egito, muitas vezes a função sacerdotal era exercida pelo rei. Isso não existe entre os patriarcas. Eles construíram altares em Canaã e ofereceram sacrifícios, exerceram o sacerdócio familiar, comum naquele tempo. Os sacerdotes que aparecem são estrangeiros: o sacerdote-rei de Salém (Jerusalém), Melquisedec e os sacerdotes do Faraó. Os sacerdotes junto ao povo de Deus, com funções específicas e exclusivas, enquanto instituição organizada surgem com Moisés.
Os sacerdotes nas religiões antigas são ministros do culto, guardiães das tradições sagradas, porta-vozes da divindade (adivinhos). Em Israel o sacerdote exerce sempre dois ministérios fundamentais, que se caracterizam como forma de mediação: serviço do culto e serviço da Palavra.
O sacerdócio de Jesus é o único autêntico. Não pertence à linhagem de Aarão. O seu sacerdócio remonta ao de Melquisedec, figura que o pai Abraão demonstrara tanto respeito, pois foi protegido por ele. O sacerdócio de Jesus é como o de Melquisedec, sem genealogia humana, sua genealogia está ligada ao divino, superior a todo o resto. Jesus realizou o sacrifício de uma vez por todas. O sacerdócio do padre é alicerçado em Jesus Cristo, Nele está o sentido. Fazei isto em memória de mim.
Na Presbiterorum Ordinis, documento do Concílio Vaticano II, encontramos:
“O dom espiritual que os Presbíteros receberam na ordenação prepara-os não para uma missão por assim dizer limitada e restrita, mas para a missão amplíssima e universal da salvação ‘até os confins da terra’ (At 1,8). Pois todo e qualquer ministério sacerdotal participa da mesma amplitude universal de sua missão confiada por Cristo aos Apóstolos.” Continuando: “O Pastor e Bispo de nossas almas organizou de tal forma Sua Igreja, que o Povo, a quem escolheu e adquiriu com o seu sangue, sempre e até o fim do século devesse ter os seus sacerdotes, para jamais os cristãos estarem como ovelhas sem pastor.”
O Papa Francisco na Evangelii Gaudium (Alegria do Evangelho) diz que a Palavra de Deus para ser pregada, primeiro, precisa ser vivida. Isso é de um valor pastoral incalculável. Preferimos, mesmo em tempo de mudança de época, escutar as testemunhas. Citando Paulo VI, afirma: ‘Tem sede de autenticidade (…), reclama evangelizadores que lhe falem de um Deus que eles conheçam e lhes seja familiar como se eles vissem o invisível’. Precisamos humildemente oferecer às pessoas o que temos de mais precioso, como disse Pedro: “Não tenho ouro nem prata, mas o que tenho, isto te dou” (At 3,6).
Padre Jésus Benedito em seu livro Pérolas nas mãos de Deus, diz o seguinte: “Como ‘pérolas nas mãos de Deus’, os (padres) presbíteros devem aprender a gramática da simplicidade. Às vezes, os (padres) presbíteros não conseguem ser evangelizadores e missionários, não conseguem falar ao coração do povo de Deus porque perderam a simplicidade. Um (padre) presbíteros ‘pérola nas mãos de Deus’ é um (padre) presbítero que se torna capaz de dialogar com os seres humanos de hoje que caminham, como os discípulos de Emaús, na noite escura, fugindo de Jerusalém, sem meta, sozinhos, com o seu próprio desencanto, com a desilusão de uma Igreja considerada, muitas vezes, um terreno estéril, infecundo, incapaz de gerar sentido.”
No Evangelho proclamado hoje (Jo 15,9-17), Jesus mostra aos discípulos o seu desejo mais profundo: “permanecei em mim”. Ele os conhece e sabe que são covardes e medíocres. Por isso se não estiverem unidos a ele não resistirão. Separados de Jesus os discípulos nada podem. O Evangelho de Jesus é um instrumento pastoral para a renovação da Igreja hoje. Uma pena que muitos cristãos só conhecem um evangelho de segunda mão, por ouvirem dizer. Escutaram algum pregador ou catequistas falarem sobre a Palavra de Deus. A nova evangelização precisa facilitar o acesso direto e imediato com os evangelhos. A imagem é muito simples: Jesus é videira verdadeira, completa de vida; o pai é o viticultor, cuida ele mesmo da vinha para que frutifique abundantemente. O problema está nos ramos que se não permanecerem na videira secarão. Ou seja, sem intimidade com Jesus, longe Dele, nada podemos. Aqui está expresso o abalo do cristianismo que vivemos atualmente. Uma religião sem Jesus cristo não dura muito tempo. Estamos ocupados e preocupados com muitas coisas, nos esquecemos que somos ramos, somente Jesus é a videira. Como ramos vivos, quais frutos estamos produzindo? Estamos sendo realmente ramos vivos?
O biblista Johan Konings afirma que como-e-porque o Pai amou Jesus, este amou os seus discípulos e por isso devem amar uns aos outros. O Pai é a fonte que envia o Filho que, por sua vez, dá o mandato aos seus para que sejam missionários e produzam o fruto da alegria. Jesus não nos manda amar a Deus, isto está implícito, menciona, em João, somente o mandato aos irmãos. O amor é um presente que não se devolve, porém precisa ser repartido com outros. Ao amarmos os irmãos demonstramos nossa gratidão ao Pai que é manifestada em Jesus. Portanto, auxiliamos Deus na expansão do seu amor.
Tudo o que até agora foi dito conseguimos enxergar expresso em nosso querido Pe. Waltencyr. Homem que ama ser PADRE, ama a igreja, ama a família, ama Pirapetinga. É patrimônio nosso. Homem terno, meigo, carinhoso, inteligente, íntimo de Deus, firme, não queiramos vê-lo nervoso. Um homem que nos revela Deus. Obrigado por nos amar e permitir que o amemos. Seu jeito de ser padre inspirou minha vocação. Desde quando eu era muito pequeno Pensava: quero ser padre como o Pe. Waltencyr.
O senhor revela-nos, inclusive e também, um Deus descontraído. O senhor tem um jeito especial de chegar aos corações, aos corações das crianças: a brincadeira da mão, tem que ser esperto, de encarar para ver quem vai rir primeiro, fingir que vai cair. As balas que senhor nos dava eram as melhores que já existiram. E o seu jeito de falar é diferente, dócil, amável carinhoso. O senhor tem até um vocabulário próprio. Destaco aqui algumas palavras: Um COLOSSO, para se referir a muita coisa; NO DURO (?), para um maior esclarecimento na argumentação; GOZADO, para expressar dúvida ou inquietação. O senhor faz parte de nossa história, tem um lugar especial em nossos corações. O senhor escuta Deus. Isso é importante demais para nós.
Concluindo, cito um trecho do discurso de Madre Teresa de Calcutá, quando recebeu o Prêmio Nobel da Paz: “Eu […] [fui visitar] um asilo onde havia todos esses pais idosos. […] Eu vi que naquele asilo tinha tudo […] mas que todos estavam sempre olhando para a porta. […] Virei para a irmã e perguntei: […] ‘Como é que todas essas pessoas que têm tudo aqui estão sempre olhando para a porta, por que não estão sorrindo?’ Estou tão acostumada a ver os sorrisos da nossa gente, até os moribundos sorriem. E ela disse: ‘Isto acontece quase todos os dias. […] Eles têm a esperança de que um filho ou uma filha venha visita-los. Estão magoados porque foram esquecidos.’ […] é aqui que entra o amor. […] Talvez dentro da nossa própria família tenhamos alguém que se sente só, que está doente, que está preocupado. […] Estamos presentes para receber essas pessoas? […].
Fiquei surpresa no Ocidente, ao ver tantos rapazes e moças entregues às drogas e tentei descobrir o porquê. […] ‘Porque não há ninguém na família que os receba.’ O pai e a mãe estão tão ocupados, não têm tempo. […] A criança volta para as ruas e se envolve em alguma coisa. […] Essas são coisas que destroem a paz.”
Padre Waltencyr, obrigado pelas vezes que nos asilos da vida olhamos para a porta e o senhor lá estava, sendo filho, amigo, irmão, pastor, presença humana de Deus. Obrigado por nos receber, por ter tempo para nos amar. Seu sacerdócio nos encanta. Deus o abençoe.
Cantemos:
Sou bom pastor
Sou bom pastor;
ovelhas guardarei.
Não tenho outro ofício, nem terei.
Quantas vidas eu tiver, eu lhes darei!
1. Maus pastores num dia de sombra,
não cuidaram e o rebanho se perdeu.
Vou sair pelo campo, reunir o que é meu;
conduzir e salvar.
2. Verdes prados e belas montanhas
hão de ver o Pastor, rebanho atrás.
Junto a mim as ovelhas terão muita paz;
poderão descansar.