O que quer dizer essa passagem? O que querem os discípulos ao pedir a Jesus para ensiná-los a rezar? Seria simplesmente para fazer como os discípulos de João (cf. Lc 11, 1b)? Os discípulos pedem a Jesus que Ele os ensine um modo de ser, uma maneira de existir. Pedem isso ao ver que Jesus rezava, a verem também que os discípulos de João rezavam.
Evidente que eles perceberam o significado ‘do rezar’ na vida de Jesus, que praticava com assiduidade, Jesus mesmo era modelo de oração. E o que significa rezar? Rezar é a tentativa de colocar-se diante de Deus, dis-por-se, des-instalar-se, a tentativa de dizer o indizível, tentar a possibilidade do impossível. Abrir-se ao totalmente grande. Rezar é possibilitar a ocasião de um sempre novo encontro, o fundamental encontro que gesta um novo ser, nova pessoa.
Ensinar a rezar, ensinar a ser, ensinar a dar um sabor novo à existência, experimentá-la por outra dimensão, olhá-la sob nova perspectiva. É um constante querer ser divino que inunda o limite do humano, superando suas barreiras, dando-lhe nova configuração. É dizer a Deus de si para alargar o coração angustiado, marcado pelo medo que esteriliza o ser e inibe a criatividade própria do Espírito Santo que Se manifesta naquele que reza.
Aquela bonita oração de Jesus, “Eu te louvo ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste essas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequeninos. Sim Pai, porque assim foi do seu agrado” (Lc 10, 21), é uma oração reveladora, mostra o ser de alguém que conhece seu interlocutor, é-lhe íntimo, é Dele, é Ele mesmo.
O rezar transforma ontologicamente o homem, possibilita ser de outra forma, ser alcançado por Deus que é maior que o homem, é tocar o coração de Deus, tornar-se sua imagem, querer ter a existência inteira modificada pelo Amor que vence sem fazer vencidos, que toma por inteiro o homem e o faz ver um novo céu e uma nova terra.
Jesus ensina a dialogar com o Pai, falar-lhe e nesse diálogo construir o novo humano. A oração é sempre grávida de seres novos, oriundos exclusivamente da Bondade do Senhor.
A orientação de Jesus para rezar em segredo (cf. Mt 6, 5-6) é para que o encontro com o Pai seja efetivo, sem desvios, sem tropeços para encher a vida de alegria que dilata o coração e contagia. “O Pai, que vê no segredo, te recompensará” (Mt 6, 6). Qual é o segredo que o Pai vê e que Jesus faz referência? O segredo que o Pai vê é o homem, na sua completa nudez, impotente, limitado, o segredo que o Pai vê é o tão humano do homem, o seu ser homem na sua maior profundidade.
O ser humano é um segredo para si mesmo. Na oração, Deus o revela a si mesmo. O homem se converte em segredo de Deus e, ainda, numa questão lógica, o segredo daquele que é Bom é sempre sua Bondade, mesmo o homem é sempre bom, a oração o estimula a viver conforme sua vocação e dignidade. A oração é o ‘curvar’ do homem diante de Deus, para curvar-se diante da humanidade que sempre pede um pouco de atenção.
Na oração experimenta-se as misérias de forma tão intensa e profunda que pode entristecer o ser que reza, mas que divinamente se converte em sorriso da alma, pois o homem se descobre cuidado. Nesse sentido, rezar é perceber-se cuidado, olhado por Deus, amparado pela Sua ternura. E lá, no silenciar da oração, na angústia do coração, o Senhor sempre insiste em repetir “Sou Eu. Não tenhais medo” (Jo 6, 20).
A oração, arraigada na consciente obediência a Deus, faz o ser entrar no Ser. A existência cresce. Rezar significa maturidade. Rezar é a alegrar do coração de Deus na máxima expressão de experimentar a alegria de ser filho.
O Servo de Deus, Dom Luciano Mendes de Almeida, rezou ao Senhor e é oportuno terminar com sua oração “Senhor Jesus, não vos pedimos que nos livreis das provações, mas que concedais a força do Vosso Espírito para superá-las em bem da Igreja. A certeza do Vosso amor nos renova a cada dia. A alegria de servir aos irmãos é nossa melhor recompensa. Ensinais-nos a exemplo de nossa mãe a repetir sempre sim no cumprimento da vontade do Pai. Amém”.
ALESSANDRO TAVARES ALVES
III ANO DE TEOLOGIA