A Igreja pensada em “rede”
Dom Edson Oriolo[1]
No exercício do ministério episcopal, como bispo auxiliar na Arquidiocese de Belo Horizonte, encontrei naquela Igreja Particular uma verdadeira escola privilegiada, potencializada pela riqueza humana e dinâmica, qualidades marcantes da Igreja na capital mineira. Devo essas diferentes experiências ao convívio com as lideranças cristãs – forças vivas em nossa missão evangelizadora: consagrados e consagradas, clero, irmãos bispos e, sobretudo, à orientação firme e visionária do seu primeiro servidor, Dom Walmor Oliveira de Azevedo. Sua preocupação com caminhos para a efetiva evangelização em nosso tempo, com o olhar lúcido para a realidade que nos cerca, é um apelo à inovação. Nas reuniões semanais, realizadas sempre às quintas-feiras, no contexto da construção da Catedral Cristo Rei, verifiquei que o trabalho “em rede” é imperativo nessa inovação, urgente para a evangelização e reformulação das organizações eclesiais.
Fui membro de uma comissão multidisciplinar integrada por agentes evangelizadores, por profissionais de vários setores da Arquidiocese, da PUC Minas, com dons, capacidades, formações, ideias, gerações, mentalidades diferentes que, sob a condução do arcebispo, trabalhamos por um objetivo comum: manter em desenvolvimento o processo de construção da Catedral Cristo Rei e assegurar a conscientização a respeito do sentido evangelizador dessa importante obra, entre as forças vivas das milhares de comunidades eclesiais. Um constante ofertar e receber, não apenas de informações, mas de conhecimento e experiências, em uma rede harmônica, oportunidade em que se sobressaem o diálogo e o esclarecimento mútuo, em vista do que consideramos principal: a imediata construção da Catedral e a imediata e profunda evangelização – importante recordar que toda atividade, no contexto eclesial, tem por objetivo último evangelizar, sem exceção.
O trabalho “em rede” é o que norteia essas importantes iniciativas, sonho acalentado por tantas gerações de bispos, do clero e de leigos da Igreja Particular de Belo Horizonte, também, todos os demais trabalhos pastorais desenvolvidos na arquidiocese agigantada. A evangelização, pensada em rede, tanto nas estruturas internas da Igreja quanto nas iniciativas evangelizadoras nos diversos ambientes sociais, conecta-se aos anseios e aos desafios, promovendo a conexão entre as pessoas. Se não é incomum em nossas circunscrições eclesiásticas que os departamentos da própria cúria tenham dificuldades de se harmonizarem em alguns momentos, em razão de suas complexidades, os desafios são ainda maiores quando se trata de realidades mais amplas, a exemplo das iniciativas pastorais, em contextos tão diversos, marcados pela diversidade de mentalidades, ritmos, além de tempo e espaço.
A Evangelização pensada em rede é, assim, instrumento essencial, não apenas para o levantamento de metas e o desenvolvimento de métodos. É fundamental na integração de projetos, mentalidades, propostas criativas e dinâmicas e na superação de todo medo e desânimo que possam surgir. Quando o Papa Francisco nos adverte sobre o medo que mata nossa alegria de ser comunidade, ele espera que encontremos formas de preservar a alegria de trabalhar pelo Reino, confiantes em sua efetivação. Conforme afirmei anteriormente, o trabalho em rede favorece o estabelecimento de metas com novos objetivos inteligentes e oportunidades apontadas para um foco definitivo, ou seja, pensar verdadeiramente como comunidade – que o “nós” prevaleça sobre o “eu”, sobre o individualismo. Desse modo, promove-se o desenvolvimento de responsabilidades e expertises, em conectividade, multidimensionalidade, abertura, dinamismo e descentralização.
Atuar em rede permite o surgimento de articulações, conexões, vínculos, ações complementares, parcerias, participação, espaços para análises e posicionamentos a respeito dos serviços já prestados. Vale destacar algumas situações que favorecem esse tipo de trabalho:
- a) Exercício saudável dos princípios de hierarquia e burocracia, em vista de uma coordenação focada nos objetivos, no diálogo e na abertura para novas ideias e direcionamentos;
- b) Valorização da individualidade a serviço do projeto coletivo, buscando pessoas preparadas e com expertises adequadas para as propostas em pauta, superando o amadorismo que, muitas vezes, esconde-se sob o entendimento equivocado de que “democracia” é sinônimo de falta de coordenação ou de liderança;
- c) Diagnóstico de potencialidades e fragilidades, sem medo de conviver com os limites que possam ser identificados tanto no subjetivo, quanto no institucional;
- d) Passagem de uma análise fragmentada para uma ótica globalizada, isto é, expandindo o campo de visão para além dos problemas circunstanciais, priorizando resultados mais amplos e em longo prazo;
Muitas vezes não nos damos conta de que nossa sociedade está organizada em rede. As inúmeras realidades que organizam e potencializam a vida quotidiana, a partir de nossos anseios, ainda que com objetivos globais, fazem-se na conexão de diversas realidades que se encontram e entrelaçam para responder às necessidades. As realidades são interdependentes e crescem no consórcio de diferenças e paradigmas.
É necessário que nossas instituições eclesiais façam uma leitura da realidade, identificando as razões pelas quais nossas potencialidades e oportunidades, que são imensas, muitas vezes não se efetivam em resultados para o anúncio do Evangelho. Descobrindo o valor de uma circunscrição organizada nesses moldes, faremos crescer o nosso trabalho de evangelização nas dioceses, paróquias, comunidades e instituições eclesiais.
[1] Bispo da Igreja Particular de Leopoldina MG