Apraz pensar a vocação sacerdotal sempre sob a lógica da cruz. O padre é sempre o primeiro discípulo, precisa aprender para ensinar. A reflexão sobre o sacerdócio é encantadora. Como afirmava o Beato Dom Hélder Câmara: “o sacerdócio permite que a gente não se pertença”. Enquanto primeiro discípulo, o padre o é até a cruz, e, por vezes o é, até nas mazelas, nas fugas, nos escondimentos, no medo. Nada de diferente do que ocorreu aos onze. Exceto o discípulo amado que ficou amparado por Maria.
O padre ama com amor crucificado. Jesus amou com amor crucificado, o pai amou com amor crucificado. E, isso com efetivo horizonte de ressurreição. Sendo assim, o sacerdote é imitador de Cristo (cf.1Cor 11,1). Ser vocacionado ao sacerdócio é ser vocacionado à cruz, não há exceção, não há outro caminho. E, nisto consiste a felicidade oriunda de uma decisão de resposta, de um sim a um Outro que nos quer totalmente para Ele.
Discernir dói. Dói como qualquer nascimento. Mas, com efeito, é uma dor prenhe de alegria, grávida de uma felicidade duradoura. O sacerdócio é um itinerário de transformação do homem em um ser do mistério, o padre é um homem do mistério. Sempre de novo vale ressaltar que Aquele que coube no ventre de Maria, pela fé, cabe nas mãos do padre.
Este fator não gera envaidecimento nem exclusivismo. Ele gera profecia, dolorosa profecia. Exigindo um cuidado tão grande, tão importante que quase parece ser impossível. Não se imagina ser padre. Só se sabe sendo. Ser padre é dizer sim a um amoroso e doloroso desafio. Amar dói, a cruz dói, por isso, amor crucificado.
Toda aproximação da cruz gera angústia, medo, ou dor de quase angústia. Mas, se ela fosse a última palavra, o último momento seria o desespero. Mas ela não é. A luz forte da ressurreição já brilha, pois Jesus abriu o caminho. É sapiente lembrar que a cruz é dimensão integrante da beleza da ressurreição. Não se elimina, não se pula etapas.
A vocação sacerdotal é condição divina para aperfeiçoamento da condição humana. Antes de tudo, há a transformação daquele que se dispõe. E, como todos os cristãos, pela cruz, o padre descobre-se infinitamente amado, infinitamente querido. Descobre-se sustentado pela Graça divina, agraciado com a amizade de Deus.
Pe. Alessandro Tavares Alves