A existência do ser humano é uma existência vocacional. Nós existimos por uma questão de escolha, escolha de Deus. Há sempre um chamado, há sempre Alguém olhando e cuidando de nós, justamente por isso, chama-nos. Pois Ele sabe sempre o que pede e a quem pede. Por isso que a confiança do chamado está precisamente Naquele que chama. “Antes de formar-te no seio de tua mãe, eu já te conhecia, antes de saíres do ventre, eu te consagrei e te fiz profeta para as nações” (Jr 1, 5).
Ele convida, Ele ensina e Ele envia. Com efeito, conta com a disposição, disponibilidade par dizer “Sim”, entregar-se, abandonar-se a uma esperança grande, concreta. Deus não decepciona nossa esperança. Ele dá sentido à vida, dá sabor à existência inteira e a enche de significado, mas é preciso dis-por-se, estar como discípulos, optar por Jesus, decidir-se por Ele.
Os grandes homens da Bíblia angustiaram-se com o chamado feito, consideraram-se os mais indignos dos homens, os maiores imerecedores daquele chamado, daquela Presença. Mas Ele os quis, nas suas misérias, nas suas pobrezas, daquele jeito com o qual existiam. E, eles foram, na penumbra da fé, na possibilidade do erro, permeados de dúvidas, mas foram, seguiram, e deixaram que Ele os conduzisse e deu certo.
O seguimento comporta uma lógica invertida, um amor que passa pela cruz, um amor que chega quase à angústia, que desassossega, que não dá nenhum conforto, mas antes de tudo, é Amor. A inteligência humana não abarca o significado de uma vocação pois ela não é inteligível. Vocação é decisão do Mistério. E nós somos mistério no Mistério, vocacionados à coerência de amar.
Abraão viveu a primeira angústia vocacional: “Sai de tua terra, do meio de teus parentes, da casa de teu pai e vai para a terra que eu vou te mostrar” (Gn 12, 1). Como assim sair de tua terra? Deixar os parentes, deixar a casa do pai? Deus pede a Abraão que deixasse tudo aquilo que ele era, tudo o que possuía, quase que perder sua história para iniciar uma totalmente outra. Isso exige uma grande coragem, impensável para a limitada inteligência humana.
Mas ele foi, esperou contra toda esperança, mas foi e deu certo, sua obediência não o decepcionou.
O mesmo ocorreu com aqueles quatro à beira do mar da Galiléia, “vem e segue-me!” simplesmente Jesus disse assim. E eles se inquietaram tanto que deixaram e seguiram, deixaram suas seguranças para estar com aquele Homem (Cf. Mc 1, 16-20). Entregaram-se a um projeto, a uma utopia, ao sonho de Jesus de Nazaré.
Ao chamar os doze isso também ocorre, ao evangelista faz questão de narrar os nomes de cada um deles, isso é de grande significação. Ele sabia quem chamava com precisão de escolha (Cf. Lc 6, 12-16). O que mais encanta nessa passagem é que “Jesus foi à montanha para orar. Passou a noite toda em oração a Deus. Ao amanhecer, chamou os discípulos e escolheu doze entre eles […]” (Lc 6, 12 -13).
Nesse sentido torna-se evidente que vocação é consequência de um grande Amor. É o chamado a um grande encontro que marca para sempre. Por isso, o vocacionado é um homem de fé que se transforma em discípulo de amor para ser apóstolo da esperança, para anunciar um Amor que não ilude nem decepciona. O vocacionado é profeta do amor. É um eterno aprendiz de Jesus Cristo, que deseja aprender tanto, tanto que se torna outro Ele e com o tempo passa existir na pessoa Dele e será reconhecido por isso. O vocacionado é chamado a ser santo.
ALESSANDRO TAVARES ALVES
III ANO DE TEOLOGIA