As intuições sobre Jesus de Nazaré sempre são intuições existenciais ornadas por um olhar divino. Ele é o critério hermenêutico da existência. Nesse sentido, apraz pensar-Lhe como gentileza do Pai, a metáfora da licença poética. O descortinar da existência experimentado por Jesus reeduca as percepções humanas. Interpretar o Filho como gentileza do Pai permite reeducar a própria experiência feita em relação ao mesmo Pai. Após a encarnação do Verbo, há um repensar da relação Criador-criatura, pois intui-se daí em diante, a relação Pai e filhos.
Com efeito, perceber a trajetória de Jesus como modelo para a trajetória humana, permite encarar a rotina com esperança renovada. A vida está perspectivada no amor, que passa a ser compreendido como matéria-prima da vida. A cruz torna-se elementar para o discernimento. Ela, sob a premissa da ressurreição, explica as angústias, os choros calados, a lágrima até então não traduzida.
Neste interregno, na perspectiva da cruz, toda dor é um recado. Ela carrega sempre uma palavra a ser dita, interpretada e, sobretudo, superada. A gentileza divina reside precisamente aí. O filho explica o homem a ele mesmo. Encontra-o na encruzilhada do não dito, diante do perder-se, no inesperado que incomoda e machuca. No entanto, o que machuca nunca tem a última palavra. A ressurreição é a gentileza hermenêutica que garante a certeza que a última palavra é sempre do amor.
Gentileza de vida que converte os dramas humanos em gentileza humana. Em delicadeza de vida. A elegante discrição do Divino perfaz a extravagância do humano, aprimorando a sensibilidade. O silêncio discreto do céu convertendo o barulho ruidoso do ser humano, remodelando-o. A alegria de Deus se revela como o mistério da atração ao homem, encanta, conquista, ama.
Nada obstante às circunstâncias existenciais dolorosas, Jesus não lhes é indiferente. Ele soube ser gentil com quem doía, com quem pecava. Não lhes mostrava catálogos de penas, mas amor. O código de Jesus sempre foi o abraço, curava e cuidava abraçando, sorrindo àqueles que choravam. O sorriso de Jesus sempre curava, pois, seu sorriso sempre amava. Padre Zezinho traduzira em letras o pensamento que sempre visita as consciências devotadas ao Cristo: “ninguém podia imaginar que alguém pudesse amar do jeito que Ele amava”.
Neste aspecto, Ele é a gentileza do céu, a gentileza que se fez caminho, fez-se Verdade e Vida. Resta a seus discípulos promoverem a reciprocidade de tal gentileza. Maria, a mãe da gentileza, cultivou a gentileza em seu coração. Que ela ensine a humanidade, que os discípulos tenham espaço para a gentileza e que haja, por ela, a gentileza, a conversão dos corações e a adesão à felicidade de Jesus de Nazaré.
Padre Alessandro Tavares Alves
Diocese de Leopoldina
