Pensar no amor de Deus certas vezes me constrange. Acabamos de celebrar a exaltação da Santa Cruz, exaltação da maior prova de amor de Deus para com o seu povo e diante desse amor imenso de Deus surge a interrogação: Seria eu digno de tão grande amor?
Ao olharmos nossa história perceberemos o quanto somos permeados por faltas e pecados. Tais faltas nos levam por vezes a nos afastar do criador e mesmo a nos esquecer de seu amor para com cada um de nós. Mas não devemos esquecer que tal afastamento se dá por parte do homem para com Deus e não o contrário: Deus continua amando profundamente aos seus filhos.
A atitude criacional de Deus é, sem dúvida, uma atitude amorosa. Ele cria por amor, e após criar contempla a sua obra e percebe que ela é boa (cf Gn 1, 31). As obras de amor são em si e por si gratuitas, o amor é ele mesmo sua própria paga. Amor não consiste numa relação de troca de favores. Permuta não é amor, é uma simples busca de benefícios. Amor é doação, é entrega, é renuncia e busca constante por aquele a quem se ama.
É na atitude de reconhecer o amor de Deus que se percebe como ser faltoso, em processo de construção. Ora, aquilo que não está terminado está propicio ao erro uma vez que não é perfeito. Na atitude de reconhecimento de nossa condição criatural é que somos capazes de nos esforçar por voltarmos para o Senhor e sanar essa “saudade de Deus” que aflige o nosso coração como diria Santo Agostinho.
Temos saudades do Senhor, aquele que nos criou por amor e para o amor, mas ele também tem saudades de nossa presença. Deus aguarda ansiosamente a presença de seus filhos amados para que, com eles, possa instaurar o seu reino de Amor. Não importa como está a nossa vida, Ele continua nos amando pois sabe de nossa condição imperfeita.
Quão grande é essa realidade amados: Deus tem saudade dos seus filhos! Aguarda ansiosamente a nossa presença! Espera por nós para nos acolher de braços abertos!
Como no livro dos cantares ele é Amado de nossas almas. Ele que nos chama para junto dele sermos um só coração e uma só alma. Nós, a Igreja, somos a amada e ele é o nosso amado que nos dirige a voz dizendo “Levante-te, minha amada, vem, formosa minha.Eis que o inverno passou, cessaram e desapareceram as chuvas. Apareceram as flores na nossa terra, voltou o tempo das canções” (Ct 2, 10) Irmãos, cessaram as chuvas e chegou o tempo das canções, o tempo de estabelecer essa união tão intima, tão sólida, que não se consegue mais distinguir aonde tem inicio o nosso eu e o Eu de Deus. Uma união tão perfeita que o nosso querer não se distingue do querer Dele. Uma união tão sublime que nos leva a um desejo ardente de levar outras pessoas a essa união.
Como é belo tudo isso! Como rejubila nossos corações só de pensar nesse convite do Senhor que se estende para todos aqueles que foram criados pelo amor de seu coração misericordioso.
Mas para que tudo isso ocorra irmãos é necessário algo: Intimidade.
Em qualquer relacionamento só se chega ao nível da intimidade através de um convívio constante. Para que se instaure uma intimidade com Deus o processo não é diferente: é necessário sanar as nossas saudades dele e as saudades dele para conosco através do convívio, da presença.
Buscar estar na presença de Deus, entregar tudo o que temos para que assim possa ser um com ele. Ser como uma árvore que é plantada às margens de um rio: pode vir a seca e ela não murchará jamais, pois ela é nutrida constantemente pelo rio. Assim também deve ser com cada um de nós irmãos, buscarmos a intimidade com Deus para sermos nutridos constantemente do seu amor infinito e assim sermos um.
Edson José Ribeiro Ferreira
Seminarista