Aconteceu em Ubá, nos dias 18 a 20 de julho passado, o 17º Encontro Regional de Formação dos Agentes de Pastoral Negros (APNs). Com o tema Juventude Negra e os desafios para a realização da cidadania: racismo e segurança pública, o encontro contou com a presença de expressivo número de participantes, a maioria dos quais composta por jovens de diversas cidades de nossa diocese tais como Cataguases, Leopoldina e Ubá, além de jovens e participantes oriundos de outras cidades de nosso e de outros estados como Belo Horizonte, Contagem, Ponte Nova, Governador Valadares, Salvador, Vila Velha, Rio de Janeiro, Mesquita-RJ, Serra-ES, São Paulo, Campinas-SP, Rio Grande do Sul etc, fazendo com que o Encontro adquirisse uma dimensão nacional. Além destes, contamos com lideranças e representantes de Muriaé, Tocantins, Piraúba e Pirapetinga.
No sábado (dia 19) de manhã, os participantes se concentraram na Praça São Januário, onde representantes do Movimento Negro, das polícias civil e militar e do executivo local compuseram uma mesa para debater o tema do Encontro, focando especialmente nos homicídios praticados contra a população negra pelas forças policiais apontadas por diversos estudos, buscando identificar suas causas e apontar possíveis soluções. Após as falas dos debatedores, a palavra foi aberta ao público presente para perguntas e intervenções, tendo sido um momento bastante rico, de discussões acaloradas, onde ficou evidente as diferentes visões entre movimento negro e forças policiais acerca da vitimização letal da população negra por agentes da segurança pública. De todo modo, o debate levantou a discussão, pôs o dedo na ferida e abriu caminho para o aprofundamento de um diálogo urgente e necessário entre sociedade civil, governo e corporações policiais na busca de uma política de segurança pública que prime pelos seus fins constitucionais de proteção da incolumidade das pessoas e afaste de sua estrutura práticas calcadas no preconceito, na discriminação e no racismo que resultam no assassinato dos(as) negros(as). Pra descontrair, após o debate tivemos uma excelente atração musical com Pereira da Viola.
Á tarde, com assessoria dos companheiros José Antônio Marçal (BH), João Carlos Pio (BH) e Nuno Coelho (SP) o Encontro continuou no Centro de Liderança Pastoral, com um enfoque mais direcionado à política pública educacional, notadamente os avanços, conquistas e desafios na implementação da lei 10639/2003, que institui a obrigatoriedade nas escolas do ensino de História da África e da cultura afro-brasileira. Entendemos que essa lei, que foi fruto de intensa mobilização do Movimento Negro, se efetiva e adequadamente aplicada, contribui para a desconstrução de preconceitos, estigmas e estereótipos negativos historicamente atribuídos à população negra, a valorização da diversidade étnica de nossa sociedade, o reconhecimento do legado cultural, político, histórico, econômico, artístico, religioso e social do negro na formação de nossa identidade nacional, a construção de uma identidade forte, sentido de pertencimento e autoestima positiva nos educandos(as) negros(as) pelo conhecimento de sua rica História e de seus heróis e heroínas negras, além das personalidades negras de ontem e de hoje que se destacaram nas várias áreas do conhecimento.
Ao findar da tarde, os jovens presentes se dividiram em dois grupos, um composto por jovens de 15 a 20 anos e outro composto por jovens de 21 a 29 anos e cada grupo sob a assessoria de um jovem se reuniu em local próprio para conversarem e discutirem como vivenciavam as questões decorrentes do preconceito, da discriminação e do racismo.
A noite cultural foi movimentada com apresentações de quadrilha, dança, desfile de beleza negra, recitação de poesias e muita música.
Na manhã do domingo (dia 20), aconteceu a plenária da juventude, com explanação pelos jovens das discussões ocorridas no dia anterior e suas propostas de ações no enfrentamento dos problemas detectados. Os assessores fizeram suas sínteses e apontaram pistas de ações para os trabalhos nas bases. Ao final, fez-se uma avaliação do Encontro, onde se constatou os pontos fortes e pontos fracos, visando a correção de rumos.
O debate está posto e as discussões continuam agora em nossas bases, onde todos que participamos temos o compromisso de atuar e contribuir para a construção de relações fraternas.
A Coordenação regional dos APNs agradece a Diocese de Leopoldina e a todos (as) que contribuíram direta ou indiretamente na realização de mais este Encontro.
Wagno da Rocha Antunes – Membro da Coordenação Regional dos APNs