Aconteceu nos dias 19 a 21 de julho passado, na cidade de Ipanema, Diocese de Caratinga, o 8º Encontro Mineiro das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs). Cerca de 620 participantes, oriundos de todos os rincões dessas Minas que são “muitas”, como disse Guimarães Rosa, se reuniram para trocar experiências, celebrar e refletir o tema “Os Desafios de Uma Igreja em Saída na Construção da Sociedade do Bem Viver e Conviver” e o lema “Criarei Novo Céu e Nova Terra e Nunca mais Haverá Choro ou Clamor” (Is 65, 17-19). A diocese de Leopoldina esteve representada por um grupo de Agentes de Pastorais, Movimentos e Organismos como Comissão Pastoral da Terra (CPT), Agentes de Pastoral Negros (APNs), Caritas Diocesana etc. A Assessoria ficou por conta do padre Alfredo Gonçalves (Alfredinho) e Sonia Gomes, recentemente eleita presidenta do Conselho Nacional de Leigos e Leigas do Brasil.
Padre Alfredinho estruturou sua intervenção em 05 pontos a que chamou de “Janelas”, uma metáfora que nos convida a dela nos aproximarmos cada vez mais (colocar o nariz, como disse) para melhor vermos, percebermos e compreendermos a realidade. Uma dessas “Janelas” para as quais chamou a atenção é a percepção de que o Organismo Vivo que é o Universo (e com ele a História) no qual habitamos está doente, visivelmente diagnosticado pelas várias “febres” que o acometem, como o desemprego, o subemprego, as migrações forçadas, as desigualdades sociais, a existência atualmente de 70 milhões de refugiados no mundo etc. Estas “febres”, aliada às neuroses que também nos acometem, sendo a maior delas a neurose do medo (medo de perder o emprego, da insegurança, do outro, do diferente, da própria liberdade etc) faz com que nos aproximemos de outra “Janela” e compreendamos porque tem crescido, no Brasil e no mundo inteiro, a extrema direita. Ante tantos desafios, padre Alfredinho apontou a “Janela” da Igreja em saída, proposta pelo Papa Francisco, como possibilidade de mantermos a esperança e caminho de alimentarmos nossa utopia e sairmos da crise. Em suas palavras, tempos de crise nos convidam à semeadura, não à colheita; devemos sair a semear para que outros colham.
Já Sonia fez sua intervenção explanando as experiências de organização, mobilização e lutas concretas que vivencia em sua atuação pastoral, eclesial e social junto ao povo da excludente e difícil realidade do “chão em que pisa” na cidade de Montes Claros. Enfatizou o papel das CEBs, do Laicato, dos grupos de reflexão bíblicos comprometidos com uma espiritualidade encarnada na vida para o processo de organização popular e das lutas por moradia, formação de redes de solidariedade, do trabalho com mulheres em situação de violência, da participação e fortalecimento dos Conselhos de Direitos, planejamento e formulação de políticas públicas emancipatórias para pessoas em situação de rua e egressos do sistema carcerário, catadores de material reciclável, realização do Grito dos Excluídos etc.
Conforme o programa do Encontro, os participantes se dividiram em Oficinas Temáticas onde aprofundaram temas específicos como: Coleta Seletiva, Plantio de Água, Juventudes e Cultura, Impactos da Mineração, Economia Solidária, Políticas Públicas, Doutrina Social da Igreja, Leitura popular da Bíblia, Direitos Humanos, Mídias Sociais, Superação da Violência e Cultura da Paz etc.
Não faltou um cortejo pela principal rua da cidade no qual foi cantado e celebrado as diversas bandeiras e causas presentes na atuação dos participantes e um ato celebrativo e cultural na praça no sábado à noite.
Por fim, no domingo e último dia do Encontro ocorreram a celebração, as falas de conclusão dos Assessores e o envio dos participantes às suas realidades locais para que, fortalecidos por esta vivência, sejam semeadores de uma Igreja em saída e construtores de uma Sociedade do Bem Viver onde, dentre outras coisas belas, “não haverá crianças que vivam alguns dias apenas, nem idosos que não cheguem a completar seus dias, ninguém construirá para outro morar, nem plantará para outro comer e ninguém trabalhará inutilmente nem gerará filhos para morrerem antes do tempo.” (Is. 65, 20-23).
Por: Wagno da Rocha Antunes (Da Caritas Diocesana e Agente Pastoral Negro)
