Dom Edson Oriolo[1]
A realidade é aquilo que percebemos como real, baseada naquilo que nossa percepção nos sugere. É o que os nossos sentidos captam e a nossa mente interpreta, isto é, o que estou vendo é a realidade. A realidade se conhece com profundidade, à medida que dela participamos como sujeito e quando nos comprometemos. Ela chega até nós pela observação, pela evidência e pelas explicações daquilo existe.
O ser e viver o sacerdócio vêm sendo impactados, gradativamente, na vida interior, pela realidade dos sistemas inteligentes. São plataformas tecnológicas que executam inúmeras funções e que aproximam a capacidade racional do ser humano para solucionar problemas. Esses sistemas inteligentes estão evoluindo e necessitamos de sacerdotes que reconheçam a sua dimensão ontológica e funcional para terem orgulho da sua vocação e missão.
O sacerdote deve valorizar profundamente a sua vocação e missão, sendo apaixonado por viver a graça recebida no dia da ordenação e encantando-se continuamente com o verdadeiro sentido do sacerdócio. Como Paulo escreveu a Timóteo: “Dou graças àquele que me deu forças, Cristo Jesus nosso Senhor, que me considerou fiel, designando-me para o ministério” (1Tm 1,12)
Alguns valores em relação à vida sacerdotal e sua missão estão ficando de lado, como, por exemplo, a comunhão, a obediência, o sacrifício, a partilha, a corresponsabilidade, a diocesaneidade, a caridade pastoral, a comunhão presbiteral, o serviço, o grau hierárquico, o mistério, o sagrado, a entrega, a doação, a caridade, a fraternidade, a solidariedade etc. O sacerdócio não significa status, mas um dom recebido que transcende o simples fazer, pois é continuar o que Jesus fez: “servir”.
Olhando para passado, lembro do meu pároco, inúmeras vezes de joelhos em adoração, na igreja. Recordo de sacerdotes recitando a liturgia das horas e o terço de Nossa Senhora, como preparação para celebrar com devoção e humildade os mistérios de Deus e isso parece ser coisa do passado. O mais importante é ser um show man, vivendo uma espécie de esquizofrenia vocacional, em que se preenche o vazio, munido pelos sistemas inteligentes, chamando a atenção para si e procurando agradar os fiéis e atraí-los a qualquer custo, mais do que anunciar a verdade e levar verdadeiramente a Deus.
Atualmente, os consagrados convivem 24 horas com “sistemas inteligentes”. Existem máquinas que realizam sozinhas as coisas para nós. Estão integradas em todas as dimensões de nossas vidas: física, psicológica, espiritual, religiosa, financeira e ambiental. À medida que esses sistemas inteligentes evoluem, é necessário revisitar a vocação e a missão da consagração para que sejamos mais éticos, morais e atuemos in persona Christi. Como o papa Francisco nos lembra, a tecnologia deve ser guiada por uma ética centrada na pessoa humana.
Os sistemas inteligentes são estruturas tecnológicas avançadas que realizam uma vasta gama de tarefas, imitando a capacidade cognitiva humana. Eles são capazes de resolver inúmeros problemas e desafios complexos, o que resulta em um crescente fascínio pelos algoritmos de recomendação que utilizam para personalizar experiências e otimizar resultados. Em todos os lugares, as pessoas estão interagindo com seus sistemas de inteligência (smartphones, plataformas streaming de vídeo e redes sociais que oferecem recomendações personalizadas). Alguns estão verificando sugestões de filmes em um serviço de streaming ou utilizando um assistente de voz para ajustar a temperatura de casa. Esses sistemas se tornaram tão essenciais que é raro ver alguém sem estar conectado a eles, evidenciando a integração profunda dessas tecnologias no cotidiano dos sacerdotes.
Na realidade, os sistemas inteligentes e os algoritmos de recomendação, frutos da criatividade do homem, podem nos levar para o bem ou para o mal. Os consagrados devem ser mediadores das tecnologias, sem permitir que ninguém roube a graça do sacerdócio. Devemos ser verdadeiros apaixonados pela nossa consagração, vivendo a graça sacerdotal, encantados com os propósitos do dia de nossa ordenação sacerdotal: desempenhar sempre a missão de sacerdote como fiel colaborador da ordem episcopal, apascentando o rebanho do Senhor, sob direção do Espírito Santo; desempenhar o ministério da Palavra, proclamando o evangelho e ensinando a fé católica; celebrar com devoção e fidelidade os mistérios de Cristo, sobretudo o sacrifício eucarístico e o sacramento da reconciliação, para o louvor de Deus e santificação do povo cristão; implorar a misericórdia de Deus, unir-se cada vez mais ao Cristo, sumo sacerdote, e ser com ele consagrado a Deus para a salvação da humanidade.
[1] Bispo da Igreja Particular de Leopoldina MG
