Peregrinação anual, realizada no sábado, 16 de agosto de 2025, levou mais de 53 ônibus e fiéis de 34 cidades ao Santuário Nacional. Na homilia, Dom Edson destacou três eixos de evangelização e comentou o Evangelho de Mt 19,13-15
Aparecida (SP) — Desde 2006, sempre no sábado seguinte ao Dia dos Pais, a Diocese de Leopoldina realiza sua romaria anual ao Santuário Nacional de Aparecida. Em 2025, a tradição se renovou com força: mais de 53 ônibus partiram das 34 cidades do território diocesano — algumas a cerca de 400 km do Santuário e outras chegando a 600 km de deslocamento —, reunindo milhares de peregrinos em um gesto público de fé mariana, unidade e ação de graças no Ano Santo.
“É uma expressão concreta da fé do nosso povo e um sinal de diocesaneidade: a participação dos fiéis e do clero manifesta a unidade de uma Igreja que caminha junto”, afirmou Dom Edson Oriolo.
Sentido eclesial da peregrinação: unidade que “oxigena” a vida pastoral
Para o bispo, a romaria tem duplo significado. Em primeiro lugar, mostra a unidade da Diocese: a presença de romeiros e de um número expressivo de sacerdotes dá visibilidade ao “espírito de diocesaneidade”, marca de uma Igreja que se reconhece corpo e comunhão, mais que a soma de paróquias. Em segundo, insere-se na pedagogia espiritual do Ano Santo, quando a peregrinação é vivida como caminho de conversão, reconciliação e compromisso missionário.
Dom Edson sublinhou que a graça celebrada no Santuário “oxigena” pastorais, movimentos e comunidades, fortalecendo a caridade e a missão ao regressar para as bases. A romaria, assim, não é ponto de chegada, mas impulso para o serviço cotidiano.
Três eixos para uma evangelização proativa (desde 2020)
Na homilia, o bispo retomou as prioridades pastorais que vêm orientando a ação evangelizadora da Diocese desde 2020:
Caridade Pastoral – Um apelo, sobretudo ao clero, a cultivar intimidade com Deus e a traduzir essa amizade em amor concreto às paróquias e comunidades. A oração do pastor ilumina decisões, cura feridas, previne ativismos e sustenta a caridade.
Diocesaneidade – Mais que uma ideia, é um afeto eclesial: amar a própria Diocese e viver em rede com a Igreja-Mãe, superando isolamentos paroquiais. A organização em foranias — recentemente nomeadas com títulos marianos — é ferramenta de comunhão e corresponsabilidade.
Comunhão Presbiteral – A unidade entre os sacerdotes como condição para a fecundidade da missão. O presbitério unido testemunha Cristo Pastor e ajuda as comunidades a atravessarem desafios culturais, sociais e econômicos.
Estar em Aparecida, disse o bispo, é ato de gratidão a Deus e de confiança na materna intercessão de Nossa Senhora, amor aprendido “desde a infância”.
A Palavra que ilumina: Jesus acolhe e abençoa as crianças (Mt 19,13-15)
O Evangelho de Mateus 19,13-15 recordou o costume antigo de apresentar os filhos aos mestres para a imposição das mãos e a oração. Jesus corrige os discípulos que tentavam impedir e declara: “Deixai as crianças virem a mim…”.
Dom Edson explicou que a bênção tem densidade bíblica e familiar: é súplica por vida, proteção e prosperidade; é gesto que transmite fé de geração em geração. Daí o apelo aos pais e mães: abençoem seus filhos todos os dias.
O bispo alertou para duas distorções culturais que “fogem ao quadro do Evangelho”: aquilo que chamou de “síndrome do príncipe e da princesa”, a supervalorização do desejo infantil e a diminuição de limites formativos; e a perda do senso do sagrado, quando gestos simples — como pedir e dar a bênção — se tornam raros. Recuperá-los é evangelizar a vida familiar.
Devoção que se faz caminho: esforço, distância e gratidão
Ao refletir sobre as longas distâncias percorridas — com municípios a 400 km de Aparecida e caravanas vindas de até 600 km —, o bispo destacou a beleza da devoção popular: famílias que deixam suas comunidades por um dia para louvar a Deus e manifestar carinho filial a Nossa Senhora. A chegada no Santuário, com a Eucaristia e os momentos de oração, renova compromissos e envia os peregrinos para “lançar a semente do Verbo” em novos corações.
Igreja em saída: forania, território e missão
A participação de mais de 2 mil fiéis e do clero diocesano evidenciou o vigor das foranias — que recentemente receberam títulos marianos — como instâncias de articulação pastoral no território. A romaria, nesse sentido, é laboratório de sinodalidade: rezar juntos, caminhar juntos, decidir juntos e servir juntos.
Entrevista: “O sacerdote na sociedade do espetáculo”
Após a Missa, o bispo concedeu entrevista ao programa “Sábado no Santuário” e apresentou seu livro O Sacerdote na sociedade do espetáculo (Editora do Santuário). A obra aborda duas dimensões inseparáveis do ministério presbiteral:
Ontológica: o padre como homem de Deus, guardião do sagrado e intercessor, configurado a Cristo Cabeça e Pastor.
Funcional: liderança servidora e próxima do povo, capaz de governar, ensinar e santificar no concreto da vida comunitária.
No contexto de uma cultura de imagem e entretenimento, com redes sociais e tecnologias que moldam o imaginário, o livro propõe critérios para que o sacerdote não se deixe capturar pela lógica do espetáculo, mas transfigure esses ambientes com o Evangelho.