A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, sempre atenta e solícita aos sinais dos tempos, decidiu propor à Igreja e à sociedade brasileira um ano sobre a Paz. É sempre de novo necessário pensá-la, observar sua sentida ausência e novamente repropor o Evangelho da paz (cf. Ef 2, 17).
A situação da sociedade brasileira clama por uma revisão de valores, é preciso novamente do Evangelho, da Palavra de Deus, de Jesus mesmo. Os bispos, observando essa situação, decidiram então refletir sobre isso, e dar a colaboração afetuosa e materna da Igreja, mãe e mestra, que têm uma palavra a dar a sociedade.
Pensar sobre a paz implica uma exigência vasta, com implicações profundas na existência humana. A paz é ontológica, é intrínseca ao ser, o faz ser ele mesmo. Pensar a paz implica o conhecimento da concepção de outro, quem é o outro? Por que o outro existe? O que o outro tem a ver com a minha existência? É como se o Senhor repetisse ainda hoje a cada filho seu “que fizeste do teu irmão? (cf. Gn 4, 9-10).
O homem é um ser de relações, constrói-se por elas, humaniza-se nelas, ou seja, é-lhe inerente, não vive sem ser assim. Nesse aspecto, é preciso pensar em cada ser humano, enxergar nele não apenas o outro, mas um irmão, que carece de respeito e consideração. É preciso saber olhar além das penúltimas coisas, desinstalar-se da mediocridade e pensar em cada ser humano, como pessoa.
Colocar o ser humano no centro das decisões, com efeito, é preciso decidir pelo bem. Não basta olhar a violência, quase que numa atitude contemplativa do mal, numa passividade estéril e reduzida. É preciso avançar nas consciências, propor Jesus, o príncipe da paz. Ele que é a resposta para todos os nossos conflitos.
Assim se expressam os bispos: “a violência apresenta-se nas mais variadas formas: física, psicológica, institucional, sexual, de gênero, doméstica, simbólica, entre outras. Superar as várias faces da violência é uma tarefa de todos. Exige um compromisso de cada cristão e cristã no enfrentamento das múltiplas formas de ofensa à dignidade humana que se naturalizam escandalosamente na nossa sociedade” (CNBB, 4).
É preciso pré-ocupar-se do ser humano, enxergá-lo na sua dignidade transcendente. Dar novo conceito à segurança pública é colocar a pessoa humana no centro, alvo das decisões. Dessa forma, pensar a paz é sempre de novo pensar o homem em todas as suas dimensões, pensá-lo como ser criativo que vive em busca de adaptação à efemeridade de sua existência tão marcada pelas atrocidades das mais variadas exigências.
A sensibilidade deve ser a marca do humano. Não des-cuidar-se do outro. Amar a situação de paz, entender que ela é concretude do Evangelho, o que contraria a paz, contraria também o Evangelho.
Os Bispos com sabedoria apontam: “em sua reflexão sobre a comunidade humana internacional, a Constituição pastoral do Concílio Vaticano II sobre a Igreja no mundo de hoje (Gaudium et Spes), indica como elementos a se terem presentes para uma convivência pacífica e para o progresso da paz: o respeito pela índole comunitária da vocação humana, a interdependência da pessoa humana e da sociedade humana; a promoção do bem-comum; o respeito da pessoa humana; o respeito e amor pelos adversários; a igualdade essencial entre todas as pessoas; a superação da ética individualista; a responsabilidade e a participação social, e a solidariedade humana” (CNBB, 20).
É necessário resgatar uma cultura de amor ao próximo, construir a civilização do amor. Dar Jesus aos homens, ser testemunho de um entusiasmo novo, o entusiasmo pelo bem, ou seja, entusiasmar-se pela paz, e pela dignidade de vida de cada homem e cada mulher, e evitar a cruz da violência que se apresenta como atrocidade e destino para tantos e tantas que entram na escuridão do erro e do desespero.
Que Maria, a rainha da paz, semeie em cada coração a semente da paz do Seu Filho, e que cada consciência se renove pela esperança e pelo amor.
ALESSANDRO TAVARES ALVES
III ANO DE TEOLOGIA
REFERÊNCIA
CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. Somos da Paz: texto- base. Brasília: CNBB, 2015.