A barca de Pedro enfrenta noites escuras. As notícias são duras, consequências de um comportamento que se esqueceu do essencial. O Evangelho fica na periferia da vida. Com efeito, sob a perspectiva de Jesus de Nazaré, a fragilidade não configura um desvio de caráter, é condição humana. Contudo, um olhar frágil não pode se converter em olhar que condena. Talvez seja isso que Nosso Senhor tenha ensinado quando disse: “Quem de vocês não tiver pecado, atire a primeira pedra” (Jo 8,7).
A mídia, sobretudo a internet possibilita em tempo simultâneo a propagação de notícias, de todo gênero. É um fator positivo. Transmitir uma informação não fere a normalidade. A interpretação demonstra a largueza ou a estreiteza de quem a faz. Tal fato torna-se evidente quando lemos os comentários sobre determinadas informações. As pessoas são apressadas em expor pensamentos, externar sua postura, descuidando-se das consequências. Despreocupando-se com o machucado que provocam quando interpretam, não o fato em si, mas outras interpretações. São difusores de maldades ou, nas palavras de São João XXIII: “profetas de desgraças”.
É curioso perceber como a fragilidade se converte em pedras que se atiram contra tudo e todos. Intuo quem são os que as arremessam. Que dureza oculta em tais palavras, o que se esconde atrás de tais “juízes de internet”. A Igreja está exposta, seus pastores e rebanhos possuem um denominador comum: são frágeis, vulneráveis, pequenos, podendo converter tais adjetivos até em pecado. Essa circunstância sugere uma indagação: por que não se unem para sanar as dores, mas as piora? Por que se arvoram a julgar, sobretudo em nome de Jesus que nunca o fez? São discípulos de quem? O pai da mentira nunca foi Jesus.
Certamente recai sobre os pastores um encargo maior, uma exigência mais profunda à fidelidade, pois “a quem muito foi dado, muito será pedido. E a quem muito foi confiado, muito mais será exigido” (Lc 12, 48). É possível recordar o profeta Zacarias que afirmou: “Fira o pastor, para que as ovelhas se dispersem” (Zc 13,7), tudo isso coloca em descrédito a credibilidade da mãe Igreja, mas, concomitantemente, sugere-se uma purificação da Esposa de Cristo.
Em cada circunstância dolorosa, cada momento de desconforto que a Igreja atravessa, é imperioso trocar olhares com Jesus. Dirigir a Ele nossas angústias e interrogações mais profundas, corrigir rotas e acertar os passos com o mestre. Sempre que Ele é colocado na periferia da vida, a vulnerabilidade nos expõe ao risco, o medo invade a barca da Igreja e, como afirmava Dom Pedro Casaldáliga: “o problema é o medo do medo”.
O silêncio também é profecia. Evidente que isso não tangencia os limites da omissão, mas saber esperar para não concluir apressadamente e não pensar com a cabeça de ninguém e, menos ainda, expressar-se com palavras de outro. Rezar por alguém em situação difícil vale mais a pena do que teclar contra ele palavras ofensivas. Elas não resolvem, as orações sempre resolvem. A mãe Igreja sofre por imprudência dos próprios filhos, por imperícia interna. Aos que se equivocam e aos que divulgam equívocos, ambos se julgam e não se amam, nem se respeitam. A dor do filho é a dor da mãe. A divisão dos filhos machuca o coração da mãe. Quando o filho faz panfletagem com a dor alheia, colabora com a inimizade, semeia divisões e não ajuda a curar.
É fundamental entender onde dói e o que faz doer, assim encontra-se a cura e o bom diagnóstico. É lastimável a conversão de corações frágeis em corações juízes. Não é essa a conversão sonhada pelo Mestre, mas é sempre tempo. É fundamental renovar a esperança. Compreender as dores, senti-las, para que cada gesto e cada palavra não as aumente, mas ajude a curá-las. Jesus sempre é a cura. Com sua palavra e, mais ainda com seu silêncio. Que Maria, mãe da Igreja, enterneça nossos corações filiais, para sentir com Jesus, rezar pelos perseguidores e, mais ainda, sonhar o sonho de seu Filho não piorando a dor outro.
Pe. Alessandro Tavares Alves
Diocese de Leopoldina