Pe. Alessandro Tavares Alves
Ao celebrarmos a Solenidade da manifestação de Jesus, ou seja, sua epifania, é oportuno ler os evangelhos com os olhos sempre grávidos de esperança. Perceber cada detalhe, a riqueza de cada letra sagrada. A redação do Evangelho de Mateus (Mt 2, 1-12), aponta a procura de Jesus por parte dos magos que vinham do oriente e queriam ver aquele que acabara de nascer. É fundamental perceber o movimento do Evangelho, a procura pelo rei, a situação traçada pelo evangelista, a angústia de Herodes, que suscita interrogação: que medo um recém-nascido poderia provocar em um rei do tamanho de Herodes? Um rei com medo de uma criança, nisto reside o mistério, justamente na curva do inexplicável, nas entrelinhas do não sabido, do não explicado.
Não irei deter-me na historicidade do texto, cujo valioso teor merece destaque, mas exporei apenas simples impressões. Há aí, a busca, um itinerário de procura, um encontro e um novo rumo de volta. É o caminho de nossa existência. Os magos procuram, seguem uma estrela, ela os guia pelo deserto, é bom reparar que o deserto é dimensão integrante de quem caminha, a vida humana é um constante êxodo, é travessia pura e simplesmente. Eles enfrentam o deserto, fixados na estrela que brilhava, aumentava em seus corações a ansiedade do encontro, os magos descobriram-se buscadores de Deus, entenderam a vocação de seus corações: buscar Deus para tê-Lo em seus corações, para que assim, tornem-se divinos, entusiasmados pela eterna novidade que Deus é.
Durante a travessia os magos enfrentam algumas contradições, são conduzidos a Herodes, foram a um rei perguntar por outro rei. Logo, Herodes experimenta sua insegurança, percebe-se ameaçado. A criança ameaça, os magos questionam, não encontram tantas respostas, continuam seguindo a estrela. Ao chegarem, seus corações se dilataram em dimensões divinas. Alegraram-se, simplesmente se alegraram. O primeiro gesto foi de adorar, que significa um sentimento de importância, ou seja, abre-se o coração para importar o divino para dentro do peito, curvar-se diante do amor, colocar-se do tamanho do amor, para crescerem com ele. Apequenaram-se para olharem a criança nos olhos.
Nesse instante, a alegria nascida em seus corações os faz perceber que ali estava o melhor presente, que, em síntese, eles foram os homenageados, eles foram os presenteados. Eles foram importados por Jesus. Ali experimentaram com tanta grandeza a divina presença que não voltaram pelo mesmo caminho, seguiram outro itinerário. A vida de quem experimenta Jesus não permanece a mesma, os caminhos já não serão os mesmos, o horizonte já não é mais o mesmo. Tudo muda, muda-se o olhar, a sensibilidade, a vida inteira.
É fundamental que tenhamos os magos como grande exemplo espiritual, como aqueles que buscam Jesus, enfrentam desertos para isso e são recompensados com o amor que sorri como criança, no colo de sua mãe Maria. Tenhamos a capacidade de procurar Deus, buscá-Lo com todas as forças, querê-Lo com todos os sentimentos. Deixá-Lo ser. O percurso dos magos é o percurso de nossa existência, que sempre se encaminha para o encontro com aquele que modifica a vida, que as dores do caminho não nos desanimem. Que a expectativa do encontro seja superior aos desafios. Que o Amor, criança no colo de Maria, encante-nos sempre mais.
