Desde quando assumiu o governo da Diocese de Leopoldina, no dia 25 janeiro de 2020, dom Edson Oriolo se propôs a conhecer as diversas realidades existentes nessa extensa área episcopal, como o aspecto geográfico, histórico, cultural e as expressões de fé existentes. Dentre os desafios pastorais, canônicos e administrativos desta Igreja particular, buscou conhecer a realidade de um local muito conhecido, denominado de Santa Montanha, que recebe peregrinos de todo o país.
Localizada no Distrito de Vilas Boas, em Guiricema (MG), a Santa Montanha é um local conhecido por uma suposta aparição de Nossa Senhora, cujos relatos foram registrados em 1966. Embora não exista nenhum estudo teológico-canônico ou posição das autoridades eclesiásticas sobre uma possível sobrenaturalidade, o alto desta serra tornou-se um local de peregrinação, sendo construída uma capela e, em seu entorno, formaram-se várias residências de fiéis, que fazem parte desta comunidade de fé – também composta por religiosas que ali resolveram dedicar os seus esforços para que a Santa Montanha se transformasse em um centro de pregação da Palavra de Deus e devoção a Nossa Senhora.
Geograficamente o local está inserido no território episcopal da Diocese de Leopoldina, no entanto, o atendimento pastoral a esta comunidade foi confiado aos sacerdotes da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney, em acordo estabelecido em 2003, durante o governo do então bispo de Leopoldina, dom Frei Célio de Oliveira Goulart OFM. Dessa forma, a Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney designou os padres Geraldo Gualandi e Manoel Macedo de Faria, residentes em Itaperuna (RJ), para o atendimento em Santa Montanha.

Crédito: Alexandre Photografia
O acordo entre as circunscrições eclesiásticas teve uma solução definitiva com a regularização canônica, sendo criada uma capelania, confiada oficialmente a um capelão, para o exercício de seu ministério sacerdotal em Santa Montanha, garantindo um cuidado especial a este grupo de fiéis que participam das celebrações no local.
Além da criação da Capelania de Nossa Senhora da Misericórdia, outra passo importante foi a conclusão de um processo canônico para que as religiosas de ‘Santa Montanha’ pudessem integrar à Associação Pública de Fiéis Senhora do Rosário de Fátima e do Monte Carmelo, estavelmente constituída na Administração Apostólica e sediada em Santo Antônio de Pádua (RJ). Dessa forma, as religiosas de ‘Santa Montanha’ continuam com o seu zelo e cuidados com este local, acolhendo os peregrinos de diversas regiões e dando assistência ao capelão oficialmente designado para dar continuidade a este bonito trabalho desenvolvido ao longo de todos esses anos.
Como coroamento deste momento histórico, foi realizado no dia 08 de junho de 2024 uma solene celebração de criação da Capelania de Nossa Senhora da Misericórdia, que foi presidida pelo por Dom Fernando Rifan, bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney, com a participação do bispo de Leopoldina, dom Edson Oriolo. Também contou com as presenças de presbíteros de ambas circunscrições eclesiásticas, seminaristas, das religiosas da Associação Pública de Fiéis Senhora do Rosário de Fátima e do Monte Carmelo e de uma numerosa representações de fiéis de diversas regiões.
A Missa Pontifical foi realizada no dia da Festa do Imaculado Coração de Maria, padroeiro da Diocese de Leopoldina e celebrada no ‘Rito Tridentino’. “A Igreja tem muitos ritos diferentes e este é o mais antigo do Ocidente. Temos muitos ritos e todos eles enriquecem a liturgia, desde que sejam em comunhão com a Igreja e com o Santo Padre”, disse dom Rifan, que explicou sobre o ‘Rito Romano Antigo’, “guardado” e celebrado em Santa Montanha.
O bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney fez memória de dom Frei Célio de Oliveira Goulart OFM. “Ele deve estar contente no céus, por termos realizado aqui o que ele pediu, de regularização de Santa Montanha”, comentou.
Dom Rifan disse ainda que existe uma multidão de pessoas que frequentam o local, dizendo que a Igreja não pode abandoná-los. “O papa sempre tem insistido que a Igreja tem lugar para todos, então temos aqui a Santa Montanha, esse lugar que está junto do coração da Igreja e do Santo padre”, finalizou.
Crédito: Alexandre Photografia
Em homilia, dom Edson Oriolo lembrou que recorreu a inúmeras pesquisas nos arquivos da Cúria Diocesana, consultando uma coleção de documentos que revelam muitos desencontros na história desta comunidade de fiéis. “Me impressionou os desafios, desconfianças quando a ortodoxia e desinteligências no decorrer de décadas. Recordei da distinção feita pelo papa Bento XVI sobre sobrenaturalidade e frutos espirituais. Não encontrei nos arquivos que li, palavras sobre frutos espirituais nesses 60 anos de caminhada da Santa Montanha. Foi aí que me interessei pelo assunto e as respostas concretas que obtive é a causa de nossa presença aqui hoje nesta tarde. Independentemente de sua origem, a Santa Montanha produz benefícios espirituais para a vida da Igreja. Aqui, muitos cristãos procuram a Deus, aprendendo e experimentando o verdadeiro encontro com o Senhor. Tenho certeza que, ao subir e descer a montanha, tem proporcionado aos fiéis uma abundância de benefícios espirituais para a Igreja e a nossa diocese”, comentou.


