O texto conclusivo da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe completa seus oito anos de promulgação. As letras daquela conferência precisam com urgência perene serem revisitadas. A Igreja na América Latina e no Caribe expressou sua preocupação com sua atuação nesse continente em todas as dimensões.
Após sua promulgação toda a ação evangelizadora ganhou renovado enfoque e ânimo. A eclesiologia ganhou novas configurações, a Igreja na América Latina pensando a si mesma em chave missionária, não mais dava-se o nome de discípulos e missionários, mas sim, discípulos missionários, para reforçar a proximidade e a íntima união entre uma característica e outra. Quase que como efeito uma da outra.
O documento é divido em três partes fundamentais que são: a vida de nossos povos hoje; a vida de Jesus Cristo nos discípulos missionários e a vida de Jesus Cristo para os nossos povos. Uma atualização do método ver, julgar e agir, adotado tão eficazmente para a análise de conjuntura no nosso continente.
Essas três grandes partes que compõe o documento é ainda subdividida em vários outros pontos para facilitar a compreensão de seu conteúdo. A palavra missão ganhou enfoque fundamental, a Igreja em constante saída, imergindo-se na realidade dos povos, dialogando com suas dificuldades, ouvindo e dando uma palavra de ânimo e ajuda.
O estado permanente de missão foi definido como prioridade básica, necessidade sempre urgente para a Igreja no chão latino-americano. Os bispos entenderam a necessidade de a Igreja promover o encontro com Jesus Cristo, fonte de toda conversão. Nisso eles afirmam neste encontro com Cristo, queremos expressar a alegria de sermos discípulos do Senhor e de termos sido enviados com o tesouro do Evangelho. Ser cristão não é uma carga, mas um dom: Deus Pai nos abençoou em Jesus Cristo seu Filho, Salvador do mundo (DA, 28).
A missão é fundamental para a ocorrência do encontro, é preciso não mais esperar as pessoas que vêm, mas ir ao encontro, anunciar a Boa Nova do evangelho, muitas vezes numa primeira evangelização. A evangelização querigmática. Com isso promove-se a alegria do discipulado, sobre isso afirmaram os bispos: a alegria do discípulo é antídoto frente a um mundo atemorizado pelo futuro e oprimido pela violência e pelo ódio. A alegria do discípulo não é um sentimento de bem-estar egoísta, mas uma certeza que brota da fé, que serena o coração e capacita para anunciar a boa nova do amor de Deus (DA, 29).
A vida do povo latino-americano é olhada e contemplada a partir de Jesus Cristo, o texto de Aparecida faz recordação e coloca isso como irrenunciável urgência. Fica cada vez mais evidente que o lugar da missão é todo lugar, todas as pessoas são destinatárias da Palavra de Deus. Nesse aspecto, como os bispos entenderam essa necessidade? Que propostas fizeram para agir efetivamente?
Eles reforçaram antes de tudo o significado da pessoa humana, e disseram com acerto: a pessoa humana é, em sua própria essência, o lugar da natureza para onde converge a variedade dos significados em uma única vocação de sentido (DA, 42). Essa compreensão é de grande significado, pois ao entender tal dignidade da pessoa, buscar-se-á a correspondência de dignidade para a elevação do homem àquilo que ele deve ser mesmo.
O documento deixou cada vez mais evidente que a opção preferencial pelos pobres passa sobretudo pela opção por cada pessoa humana, nas suas circunstâncias e em sua vida de cada dia. A chave de leitura e a resposta dos bispos para a ação eclesial da Igreja na América é a chamada conversão pastoral, essa é a resposta dos bispos.
Eles consideraram que: a conversão pastoral requer que as comunidades eclesiais sejam comunidades de discípulos missionários ao redor de Jesus Cristo, Mestre e Pastor. Daí nasce a atitude de abertura, diálogo e disponibilidade para promover a co-responsabilidade e participação efetiva de todos os fiéis na vida das comunidades cristãs. Hoje mais do que nunca, o testemunho de comunhão eclesial e de santidade são uma urgência pastoral. A programação pastoral há de se inspirar no mandamento novo do amor (DA, 367).
Discipulado, missionariedade e conversão pastoral, três significativos conceitos para ser sinônimo de uma única palavra: saída. A razão de ser da eclesiologia latino-americana está na práxis, na ação verdadeiramente evangélica que desloca a Igreja e o homem.
No parágrafo 370 afirmaram os bispos com razão: a conversão pastoral de nossas comunidades exige que se vá além de uma pastoral de mera conservação para uma pastoral decididamente missionária. Em outras palavras os bispos incentivam a ousadia na ação pastoral, para dinamizar a fé do continente tão marcado por diferentes realidades pastorais e exigentes quanto às necessidades.
A promoção da dignidade humana é consequência da verdadeira conversão pastoral. E o que mudou após esses oito anos? Sem dúvida, com alguma timidez muitas coisas foram colocadas em prática e a conversão pastoral vai gradualmente acontecendo. O documento sugere uma maturidade eclesial. E isso se alcança pela proximidade, fator sugerido com imperiosa referência pelo documento.
É um documento completo que contempla todas as dimensões do continente, antropológica e ecológica. Daí a necessidade sempre de uma releitura, querer aprender dele de novo. É um programa eclesial que aponta saídas com profunda sensibilidade pastoral.
As mudanças são ainda de fato, tímidas, existem algumas resistências, sair é sempre um risco. E essa é a decisão de Aparecida. Mas sair levando o que? Sair levando a resposta de tudo, a razão de ser de todas as coisas que é Jesus Cristo mesmo. Para que haja o encontro profundo que marca a existência por inteiro e a modifica e incita a conversão pessoa e, com efeito, pastoral.
O documento provoca a agir como Jesus sempre, a ter um olhar sobrenatural sobre a realidade e oferecer respostas consistentes às grandes indagações e necessidades humanas. O documento de Aparecida, assim como o Concílio Vaticano II não deve estagnar-se no horizonte eclesial, mas fazer-se carne, ser concreto, valorizado. É preciso retornar às fontes e o documento de Aparecida apresenta-se como o melhor caminho, o melhor itinerário eclesial para isso.