É curiosa a passagem do Evangelho de São Mateus: “Ide, pois, às encruzilhadas e convidai para as núpcias todos os que encontrardes” (Mt 22,9). Ao ler esta passagem vai se descortinando um belíssimo horizonte de sentido, uma vez que a semântica da encruzilhada externa um sentido de confuso, perdido, angústia de ver várias possibilidades e não saber rumar para nenhuma delas.
Com efeito, é nessa realidade que Jesus pede que seus discípulos vão procurar pessoas, e, não seleciona, pede que chamem ‘todos’ que encontrarem. Revela-se com isso, a elegância dos sentimentos de Jesus e, concomitantemente, uma segurança de maturidade profunda. Chamar todos implica acolher todo tipo de realidade, experiências, que, na prática não é tão simples de se perceber.
A reflexão sobre a encruzilhada sugere o encontro no desencontro, o que já dissera Vinicius de Morais em seu samba da benção: “a vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida”. Depreende-se daí que quando se está na encruzilhada, muito menos que encontrar, há muito mais o desejo de ser encontrado. Jesus sabe disso, compreende que as grandes dores são mudas, haja vista seu silêncio na cruz.
Jesus é habilidoso em se fazer encontrar, em mostrar-se amorosamente para todos que o procuram. Talvez seria ousado dizer, mas é possível em termos insuficientes da linguagem, entender que esta seja a única ansiedade de Jesus: ser encontrado para amar plenamente. Teologicamente a encruzilhada foi convertida em ponto de encontro, talvez bem povoada pelos sentimentos. Onde eles se perdem, ali são encontrados, referindo à máxima paulina de que onde abunda o pecado superabunda a graça (Rm 5,20).
O sentimento é aquilo que de mais nobre há no ser humano, e, por isso, é preciso que seja orientado pela fé. Outrossim, é a realidade inteira da vida que precisa ser iluminada. Cada qual sabe a encruzilhada que se imergiu e a angústia que é estar ali, por isso, é preciso abrir-se à Graça de ser encontrado e ser amado. Na lógica amorosa da fé, ninguém se perde absolutamente, todos são vistos pelo amor e precisam conceder a si mesmo a possibilidade de ser amado. Que Maria, mãe de Jesus e nossa, seja nossa bússola nas encruzilhadas e que toda a angústia do perder-se seja convertida na alegria do encontro.
Pe Alessandro Tavares Alves
Diocese de Leopoldina