Essas palavras explicitam a interioridade do ser humano, todos já se colocaram tal indagação sobre as mais variadas dimensões. É uma expressão identitária. Elas são a verbalização de silêncios, angústias, etc. Ás vezes até externam uma indagação pela felicidade ou elucubrações estonteantes e quase inacreditáveis. Expressão da dúvida, que fez nascer a filosofia. É o denominador comum da linguagem, dos sentimentos.
Em momento de pandemia ela reaparece com todas as forças, diante de atrocidades elas se apresentam como pergunta e, por vezes, resposta. Saem, no lugar das lágrimas, saem também com elas, saem por elas. Ou, simplesmente saem. Jesus de Nazaré a externou na hora de sua agonia ‘Meu Deus, por que me abandonaste’ com efeito, não basta simplesmente elaborar uma teologia da dúvida, é preciso ir além, pensar no que ela carrega e o que ela quer deixar em nós.
É importante rezar a dúvida, colocar o ‘por que’ antes, no meio e depois, não há ser humano que não a utilize, por vez ela é sacramento da fé. Não é inteligente demonizar a existência do ‘por que’, é mais elegante tentar responder os possíveis e, os impossíveis, deixemos por conta deles próprios e Daquele que sabe, o único que antecede toda dúvida que é Deus mesmo.
As situações difíceis se impõem. O dia declina e a noite chega, é exigente perguntar no escuro. O coração descobre-se impotente no mais alto grau, sobretudo quando visitado pela dor, queríamos que a pergunta fosse a resposta. Somos seres desejosos do saber. O Salmo 120 inicia-se com a seguinte questão: “Levanto meus olhos para os montes: de onde virá meu socorro:” (Sl 120, 1). É uma bela tradução da vida, quando também atualizamos a palavra do salmista. Nesse olhar, quantas interrogações.
Fundamental é não ter medo do ‘por que’. Deixá-lo interrogar à vontade, por vezes somos a interrogação. Existem perguntas que não vale a pena estragar com respostas. Por vezes o ‘por que’ é traduzido pela dor, que na sua imensidão emudece, depois, com o tempo, vai embora. A Ressurreição varre o ‘por que’ mais doloroso, outros se perpetuam na história da vida da gente e teremos que levá-los para sempre.
Nós o lançamos a Deus. Deus mesmo os lança a nós e nesse diálogo vamos seguindo interrogando as existências. Deixando-nos interrogar. Sendo interrogação e sendo respostas. É a dialética de existir na impotência de quem não sabe quase nada. Saibamos fazer deles nossa melhor oração, rezar a dúvida, apresentá-las a Jesus.
Ele, em sua sabedoria responderá as que devem ser respondidas, as que não serão, resta caminhar com elas até serem esquecidas e darem seu lugar para outras que virão, tirarão o sono e irão embora de novo. Tenhamos coragem de deixar a dúvida habitar e também sejamos mais corajosos ainda para deixarmos que ela se vá. Deus, Resposta das respostas ajude-nos.
Padre Alessandro Tavares Alves
Diocese de Leopoldina