Dom Oriolo[1]
Em 13 de março de 2013, a imprensa mundial e muitos fiéis estavam na praça de São Pedro, em Roma, na expectativa do anúncio mais esperado dos fiéis: habemus papam. Por volta das 15h05 (horário de Brasília), no segundo dia de Conclave, a fumaça saiu branca da chaminé da capela Sistina, indicando que a Igreja Católica tinha escolhido o sucessor de Bento XVI. Após três rodadas de votações, os 115 cardeais, dentre eles cinco brasileiros, escolheram o argentino Jorge Mario Bergoglio, como o 266 papa.
Pouco tempo depois, o Cardeal Jean-Louis Tauran fez o clássico anúncio: habemus papam (em português, “Temos papa”). Em seguida, na sacada da basílica de São Pedro, no Vaticano, apareceu um bispo latino-americano, da Argentina, jesuíta, que escolhera o nome de Francisco e, referindo-se a Bento XVI, chamou-o de bispo emérito de Roma.
Desde sua primeira aparição como papa, Bergoglio, com voz acolhedora e alegre, trouxe-nos duas verdades eclesiológicas, em suas poucas e improvisadas palavras: fragmentos da teologia do povo e o papel do primado do sucessor de Pedro no mistério da Igreja, tudo isso quando se referiu a si mesmo como bispo de Roma e não como sendo o papa.
Na sequência dos acontecimentos, Bergoglio afirmou: “Boa noite! Agora quero dar a benção, mas antes peço-vos um favor: antes de o bispo abençoar o povo, peço-vos que rezeis ao Senhor para que me abençoe a mim; é a oração do povo, pedindo a benção para o seu bispo. Façamos em silêncio esta oração vossa por mim. Agora, dar-vos-ei a benção, a vós e a todo o mundo, a todos os homens e mulheres de boa vontade”.
Esse foi um gesto de grande significado: Francisco pediu a oração e a benção do povo para si próprio. O povo de Deus abençoou o papa, tornando feliz, próximo, próspero e cheio de graças divinas no exercício do seu pontificado. Uma postura de quem valorizou e apreciou a religiosidade do povo de Deus.
Para além desse gesto e de tantos outros, ao longo de 12 anos, dotados de grande significação e reveladores de um modo peculiar de compreender o ministério petrino, faz-se necessário lançar um olhar mais profundo para a preocupação do papa na evangelização, uma postura de estar sempre abençoando o povo de Deus para uma Igreja em Saída.
Francisco, em seu pontificando, passou abençoando o rebanho do Senhor manifestando-se como um pastor exímio do povo de Deus, valorizando a religiosidade popular, a pessoa como sujeito na história e a cultura do encontro, num contexto histórico e cultural. Preocupou-se com a renovação da Igreja, a partir da camada popular, isto é, uma ação eclesial de ir ao encontro do povo, valorizando as questões espirituais, antropológicas e culturais. Sempre esteve presente na vida do povo, abençoando e vivendo um pontificado de graças e bênçãos.
Tais questões espirituais, antropológicas e culturais condensam elementos cruciais do pontificado de Francisco: a centralidade da misericórdia divina e humana, o reconhecimento da dignidade de todos, com um olhar especial para os marginalizados, e o imperativo de construir relações fraternas por meio do diálogo e do encontro cultural.
No dia 20 de abril, domingo de Páscoa de 2025, o papa Francisco, demonstrando uma notável resiliência, apareceu na sacada da Basílica de São Pedro, em uma cadeira de rodas. Sua postura irradiava uma serenidade que ecoava as palavras de São Paulo: “Combati o bom combate” (2Tm 4,7). Este momento simbolizou não apenas a celebração da Páscoa, mas também a jornada de um líder que, desde o início de seu pontificado, sendo abençoado pelo seu rebanho, buscou abençoa-lo e também ao mundo. A multidão de fiéis, reunida na praça, respondeu com um momento de silêncio, recebendo a bênção de sua santidade e logo, em seguida, com aplausos calorosos, reconhecendo o esforço e a dedicação do papa, em sua missão.
Encerrando as celebrações pascais, o papa Francisco concedeu a bênção Urbi et Orbi, um ato solene que estendeu a graça divina a todos os fiéis católicos ao redor do mundo. Este gesto final, carregado de significado, representou o cumprimento de sua missão pastoral, abençoando a cidade de Roma e o mundo inteiro. A bênção Urbi et Orbi, concedida na Páscoa, ecoou o pedido inicial de seu pontificado e testemunhou sua dedicação em ser o primeiro servidor da Igreja de Jesus Cristo, coroando e reafirmando seu compromisso de cuidar do povo que Deus lhe confiara, anunciando sempre a “todos, todos”, a “alegria do evangelho”. O legado do papa Francisco!
[1] Bispo da Igreja Particular de Leopoldina MG
