As palavras tecidas neste texto não estão intencionadas a uma apologia, ou, menos ainda, a um desmedido enaltecimento, nem um conjunto de eufemismos póstumos e desnecessários. Apenas querem expressar a gratidão pela convivência com alguém que fez a diferença. A Diocese de Leopoldina sente a falta de um filho muito querido, Padre Gabriel. Ele, humano como todos os humanos em suas peculiaridades, soube expressar-se neste mundo através de seu sacerdócio. Revelou, por sua irreverente espiritualidade, um jeito de seguimento tão profundo e incisivo.
Padre Gabriel mostrou até no último momento e, precisamente nesse, que a fragilidade é a matéria-prima da carpintaria existencial de Jesus de Nazaré. Esse fato é consolador. A perda de um padre dói em toda família presbiteral, revela-se a preocupação, medo, o inexplicável que se materializa nas lágrimas, ou, em alguns, simplesmente no silêncio.
A família diocesana experimenta isso desde ontem. A morada do Padre Gabriel mudou, agora ele mora na saudade. E, com especial afeto, ele mora naqueles que batizou, nos casamentos que assistiu, nas direções espirituais que tanto reergueu pessoas e vocações. Aí, na saudade, ele vive e viverá sempre. Só compreendemos inteiramente a existência quando nos adentramos no horizonte da fé, Naquele que ressuscitou de verdade. Somos explicados pela fé e nada mais. É, indubitavelmente, Jesus quem nos explica a nós mesmos. Nele, as interrogações ganham sentido na espera paciente pela resposta que poderá vir, ou, por um pouquinho de tempo, demorar-se, até entendermos que a demora já é um jeito que Deus encontrou para responder ao coração angustiado. Com a morte do padre Gabriel, um fragmento do coração de cada padre morreu também.
Com efeito, somos arautos da esperança e confiantes no ressuscitado. Padre Gabriel certamente recebeu o caloroso abraço de Nossa Senhora, deve estar deliciando o aconchego de seu colo. Conversando com Santa Teresa, dialogando com sua experiente teologia da vulnerabilidade. Um humano entre humanos no lugar santo. Por ela, santa Teresa, o padre ensinou a todos que só Deus basta. Ele é suficiente. E, agora, ainda na penumbra do primeiro dia de sua morte, estamos nos esforçando sobremaneiramente para entender que só Deus basta.
Ao experimentar a humanidade na sua inteireza, deve estar questionando ao senhor: que é o homem, para dele te lembrar e o tratar com tanto carinho (cf. Sl 8,5). A existência do Padre foi uma escola até no último e doloroso instante. Especialista em humanidades, ele soube o que há de sombras e luzes na trajetória humana. Fundamental é, com convencimento, repetir que Deus basta. Que Ele completa a lacuna da alma que a dor tenta esvaziar. Só Deus basta para as interrogações profundas do coração, para a lágrima que insiste em escorrer diante do momentâneo ocultar das respostas.
Padre Gabriel, em sua limitude, tornou-se arauto do céu, naquilo que é a especialidade divina, amar o frágil, o insuficiente, o pecado, o pequeno. Ama para nos tirar dessas realidades. Receba o abraço do céu. Receba nossa consideração e respeito. Leve, por gentileza, a angústia do nosso silêncio a Jesus. E, que saibamos entender que só Deus basta. Uma vida inteira, um sacerdócio inteiro, uma fragilidade inteira para convencer a todos dessa fundamental certeza: Só Deus basta. Obrigado Padre Gabriel. Interceda por nós, ajude-nos a desatar o nó de nossa imperfeição e, cada vez mais, aproximarmos de Deus que é sempre o suficiente na vida da gente.
Aqui viveu o que Dom Pedro Casaldáliga repete sempre: “a paz que não nos deixa em paz” agora aí, ao lado do Amor que te esperou de braços abertos e sorridente, descanse feliz. Descanse em paz, simplesmente na paz que ensina imperiosamente: Só Deus basta.
Padre Alessandro Tavares Alves
Diocese de Leopoldina
