O tempo quaresmal é um tempo exigente para os discípulos de Jesus. É um momento de reconquista, sobretudo o reconquistar-se. A capacidade de avaliar a caminhada, observar os excessos e despir-se deles é preciosa neste período. O parâmetro é sempre Jesus. Estabelecer a harmonia com a criação, lembrar o amor de Deus, esvaziar-se para caber o amor que vem do céu. Sentir-se amado é pressuposto de felicidade.
É preciso colocar-se em questão, repensar a vida com os critérios do Evangelho e, com efeito, ter a necessária coragem de modificar o que for preciso. O ponto de partida é redescobrir-se discípulo, é um gesto de profunda humildade, pois o caminho é construído atrás do Mestre, nunca à frente. A atenta observação dos passos de Jesus é que modela o discípulo, molda a vida e oferece sentido.
Saber diminuir o ritmo é uma dádiva, saber mudar a direção é uma atitude de sabedoria. Jesus ensina a caminhar, pois Ele mesmo é o Caminho, seu itinerário é assimilado pouco a pouco pelos discípulos para que ele seja remodelado pela cadência dos passos de Jesus. É preciso paciência para não deixar o mestre para trás, perdendo-se pelo caminho e escurecendo a vida.
A vida do discípulo precisa ser a vida do Mestre. Isto só se dá na paciência da arte de formar-se pelo amor e para amar. Reencantar-se sempre de novo. Abrir-se à Graça misericordiosa e a operosidade de Deus. Estabelecer uma sólida amizade com o Espírito santo. Esta amizade é o sustento para aqueles momentos de cansaço que indubitavelmente aparecem pelo itinerário dos caminheiros, os peregrinos na fé e no amor.
Com efeito, a esperança é o que garante a força para suportar a via-sacra da existência humana, o constante oscilar entre a sexta da paixão e o domingo da ressurreição. A existência, pela experiência de fé, assemelha-se, verdadeiramente, à via-sacra de Jesus. Suas dores, suas quedas, seu sofrimento, tornam-se as dores, as quedas, os sofrimentos de todo ser humano.
Por isso, é preciso abraçá-la integralmente, pois ela não termina no suspiro final da cruz, mas no sorriso da ressurreição. Revela que a última palavra nunca é a do sofrimento, o mistério do existir não se emoldura pela dor, mas sim, pela alegria que sucede tudo isso. Momento pelo qual Deus se manifesta como plenamente amor. Com isso, viver torna-se um ato de uma confiante paciência.
Padre Alessandro Tavares Alves
Diocese de Leopoldina