É necessário aprender a espiritualidade das indagações. O espírito humano acostumou-se a entender Deus apenas como a resposta. Mas, o Pai jamais encerra-se na escravidão do mesmo. A irreverência é marca da identidade divina, o Mistério traduz-se em surpresa, na delicadeza do inesperado, mais ainda no susto do imprevisto, no detalhe que muda uma vida inteira.
Tal imprevisto mudou a rota da história do apóstolo São Pedro. Transcorreram-se os dias de sua vida e ele passou de traidor a amado. Indagado três vezes por Jesus, Pedro reconfigurou seu caminho existencial e espiritual. “Tu me amas?” É uma indagação que constrange a inteligência, inibe-a. Tudo reinicia com essa pergunta, descortina-se um novo horizonte ao indagado. A luz brilha novamente a Pedro.
A intensidade ainda aparece: “Tu me amas mais do que estes?” A pergunta refaz a vida, nela está escondida o pedido de Jesus, para que Ele seja a referência amorosa da vida. Nenhum amor deve antepor-se ao de Jesus. Não se confunde os amores, quando isso ocorre podemos perder a referência da discrição do Mestre.
O amor humano se solidifica a partir do amor divino. O amor vocacional só se entende aí. Toda forma de amar só encontra sua explicação em Jesus. O Amor do céu não se perde na contradição dos sentimentos humanos. Jesus purificará o sentir humano quando Ele for nosso grande amor. Amor resumitivo, amor explicativo, amor extensivo.
Jesus não se perde na confusão dos amores humanos, mas lhes justifica. Por isso, as indagações amorosas precisam ser atualizadas perenemente em todos os corações vocacionais. Elas sustentam a esperança, explicam todo o resto. Pedro só seguiu depois de amado e depois de amar. As indagações refizeram seus sentimentos, mesmo que isso lhe tenha custado algumas dolorosas lágrimas.
O Amor cristão não é um conto de fadas. É amor que se torna palpável, perceptível no coração de quem o possui. O Amor faz indagações dolorosas, traduz os sentimentos inexplicados, revela a impotência do humano, sua tão marcada insuficiência. Com efeito, o Amor faz-se caminho, faz-se itinerário. Mostra-se na dimensão da conquista, do sincero encantamento.
Sendo assim, é bom não fugir do Deus interrogante, da Palavra que Se faz pergunta. Por vezes o humano sabe, mas tem medo de ter certeza. A insegurança do próximo passo é dimensão integrante do caminho. Contudo, é bom seguir e ser interrogado sempre. Jesus sabe a quem interrogar, mesmo que não saibamos o que responder, ou o medo de nossas próprias respostas emudecer-nos.
Que as inusitadas indagações divinas produzam no coração vocacional a certeza de que o maior amor da vida é Jesus de Nazaré. E, na certeza da intensidade de Seu amor, consigamos segui-Lo e manifestar tal certeza em cada passo da existência humana.
Padre Alessandro Tavares Alves
Diocese de Leopoldina