É fundamental pensar na essência da Igreja, na sua identidade mais própria que a define e possibilita compreendê-la mediante seu mistério. As notas distintivas da Igreja são quatro: una, santa católica e apostólica. Apraz pensar sobre cada uma delas para uma real clareza daquilo que professamos e seguimos.
A primeira nota eclesiológica que propomos pensar é a unidade da Igreja. O que significa dizer que a Igreja é una? Seria afirmar que ela é única, ou até mesmo uniforme? Para isso é necessária uma correta teologia da unidade, que reflete sobre essa temática e permite uma compreensão mais apurada e que evita equívoco.
O ser da Igreja acontece na história humana. Assim a Igreja se realiza no mundo, muito embora não seja do mundo. Ela nasce do anúncio que incita a comunhão. A palavra de Jesus congregou um grupo de pessoas que se tornaram discípulos, que formaram um corpo único de seguidores. A comunhão possui uma dinâmica relacional, o ‘numericamente um’ e isso sugere um princípio de unificação.
A relação que se dá pela comunhão é uma das marcas que indicam a unidade da Igreja. Tendo em vista que “a Igreja de Cristo é então una porque única, porquanto única é a dinâmica relacional que a determina e única é a tradição que a faz ser a Igreja de Cristo” (DIANICH, NUCETI, 2007, p. 460).
Para melhor compreensão desta propriedade é necessário ter em mente a dimensão escatológica, ou seja, a Igreja só pode ser bem entendida partindo da escatologia, começando pelo ponto a que deve chegar ao realizar-se em total perfeição, aquela dimensão que vai além daqui, que supera o homem e corresponde à dimensão invisível da Igreja, assim se compreende que “a Igreja é uma porque é antecipação dessa unidade final, que não será somente uma comunhão interior, mas terá configuração coletiva” (DIANICH, NUCETI, 2007, p. 461).
A unidade da Igreja é, com efeito, sinal distintivo de sua essência. A Igreja não produz sua essência, ou seja, seu existir, aquilo mesmo que ela é. Se ela não fosse una ela nem seria, ou seja, inexistia. ‘Ela não é se não for una’. Ela só é uma, pois vive a comunhão, da comunhão e para a comunhão. É a marca particular dela mesma.
O fundamento da unidade e unicidade da Igreja é o Deus uno e trino: ela é uma, pois é suscitada pelo Deus uno e trino e mantida pela unidade da Trindade, a Igreja é ícone da Trindade. Vale então considerar que a unidade da Igreja exige uma tríplice comunhão, nisso dizemos: comunhão na profissão da mesma fé (ensinamento dos apóstolos), comunhão na comum participação ao culto divino e participação nos meios de salvação (fração do pão e orações), comunhão na fraterna concórdia da família de Deus e na comunhão de vida eclesial( comunhão fraterna). A unidade da Igreja é, portanto, uma unidade de fé, de culto e de vida social. Esses três vínculos formam um todo, cujos elementos não podem ser nem isolados, nem justapostos, nem contrapostos. Estabelecem entre si uma relação de circunsessão, de mútua compenetração. (ALMEIDA, 2004, p.44).
Nesse contexto vale citar a Sagrada Constituição Dogmática Lumen Gentium em seu artigo 23: a união colegial manifesta-se também nas relações mútuas de cada bispo com as Igrejas particulares e a Igreja Universal. O Romano Pontífice, como sucessor de Pedro, é o Princípio e o fundamento perpétuo e visível da unidade quer dos bispos quer da multidão dos fiéis. Por sua vez, cada bispo é o princípio e o fundamento visível da unidade na sua Igreja particular, formada à imagem da Igreja universal: em todas as Igrejas particulares está e de todas resulta a Igreja católica uma e púnica. Por isso, cada bispo representa a sua Igreja; e todos, juntamente com o Papa, representam toda a Igreja no vínculo da paz, do amor e da unidade.
A unidade da Igreja é uma das suas dimensões e que a caracterizam enquanto tal. Somada à catolicidade, apostolicidade e santidade, formam a Igreja mesma e é, de fato, distintiva. Pois a Igreja será reconhecida por sua essência que é expressa por suas notas eclesiológicas, propriedades, ou até mesmo atributos que compõe o seu ser eclesial.
ALESSANDRO TAVARES ALVES
III ANO DE TEOLOGIA
Referências
ALMEIDA, Antonio José. Sois um em Cristo Jesus: eclesiologia. São Paulo: Paulinas, 2004.
DIANICH, Severino; NUCETI, Sereno. Tratado sobre a Igreja. São Paulo: Santuário: 2007.
