Na Liturgia somos auxiliados pelo Espírito Santo a encontrarmos o sentido da nossa vida. Nela está Aquele que nos amou primeiro e entregou seu Filho para nossa Salvação. Ele expressa seu amor liturgicamente, um amor que nos precede, espera-nos, inunda-nos e ao qual podemos ter acesso pela Liturgia, uma ação divina que acontece sempre no tempo e no espaço do homem. Compreender a liturgia, é compreender o que celebramos.
Assim, “na liturgia, o ser humano se reencontra, porque esta se orienta para Deus, para o Mistério. Nela, a arte bebe no Espírito, fonte da inspiração, a religião se sustenta na fé, a noticia é a Boa Nova do Evangelho e a infância dos filhos de Deus se revigora na filiação de Cristo”(Cesar, p.10). Isto deve ser, para a Pastoral litúrgica, uma busca constante do sentido de nossas celebrações.
Mas, então, o que celebramos? “Formular essa pergunta significa indagar não sobre as formas externas da liturgia – que, por sua própria natureza, estão condicionadas pelo tempo e pelas culturas nas quais se encerra o único Evangelho -, mas sobre aquilo que constitui o motivo da celebração, a razão da festa cristã. Essa razão é invisível, acha-se por detrás ou no fundo das formas, dos ritos, dos tempos da celebração” (Aranda, 2004, p. 89).
Faz-se necessário conhecer o núcleo dos gestos, palavras e símbolos presentes na Liturgia. Neles estão o anúncio e a realização do mistério pascal, ou seja, Cristo vivo e presente em cada vez que celebramos. É de suma importância salvaguardar os gestos e cumpri-los como nos indica as rubricas. Porém, o que queremos ressaltar aqui é que não podemos ficar somente na sua execução gerando em nós um enfraquecimento do sentido. Assim, estaríamos ‘celebrando por celebrar’. Não é a letra ou a forma de se posicionar que aqui queremos ressaltar, mas o vigor do Espírito neles contido.
Percebemos que a essência do que celebramos é então Mistério, embora invisível Se mostra através de sinais, os sacramentos. Pois, “é o mistério de Cristo que a Igreja anuncia e celebra em sua liturgia a fim de que os fiéis vivam dele e dele dêem testemunho no mundo” (CEC 1068). Logo, a liturgia manifesta o mistério que é Cristo na Igreja, Povo de Deus. Esse fator deve gerar, de forma singular, na pastoral litúrgica e também em nós, um fascínio. Pois, toda vez que a Igreja age é Cristo quem age. A Celebração litúrgica é um convite de atualização do nosso primeiro, único e atual encontro com Deus.
Todo acontecimento histórico realizado por Jesus é hoje de forma sacramental operada na e pela Igreja. “A liturgia celebra fundamentalmente um acontecimento, ou, melhor dizendo, uma série de acontecimentos: algo que aconteceu na história. O conteúdo de nossas celebrações é essencialmente formado pelos acontecimentos salvadores, isto é, as intervenções de Deus no tempo da criação, que foram revelando sua presença libertadora em favor da humanidade” (Rosas, 2004, p. 94).
O Vaticano II nos contempla com uma grande novidade. Ele quer que a liturgia nos conduza ao centro do evento fundador, que é a Páscoa de nosso Senhor Jesus. A Sacrosanctum Concilium diz que “a liturgia dos sacramentos e dos sacramentais coloca o ser humano em relação com o mistério pascal da morte e da ressurreição de Cristo, em quase todas as ocasiões da vida. Do mistério pascal derivam a graça e a força com que se santificam os fiéis bem dispostos. Todo uso honesto das coisas materiais pode assim ser orientado para a santificação das pessoas e para o louvor de Deus” (SC 61). De forma simples, despojada de excessos, acolhedora e misericordiosa.
A celebração litúrgica é alegre, cheia de esperança garantidora do nosso acesso ao Transcendente. Ela rompe a barreira do espaço, do tempo e dá a nós a possibilidade de experimentar a Jesus Cristo. “Na liturgia da terra, participamos, e, de certa maneira, antecipamos a liturgia do céu, que se celebra na cidade santa, a Jerusalém para a qual caminhamos, em que Cristo,sentado à direita do Pai, é como que ministro das coisas santas e do verdadeiro tabernáculo” (SC 8). Essa é ação da Igreja, viver de “Cristo, por Cristo e em Cristo”.
O povo celebrante deve ser consciente do mistério pascal, encontrando na liturgia sua identidade de pertença ao amor de Deus Pai, “pois o seu amor é para sempre” (Sl 136, 1). Todavia, para participar deste mistério de amor não é necessário estarmos fazendo algo na celebração a todo tempo, é mais que isso. “Mas para que seja plena a eficácia da liturgia, é preciso que os fiéis se aproximem dela com as melhores disposições interiores, que seu coração acompanhe sua voz, que cooperem com a graça do alto e não a recebam em vão” (SC 11). Isso pede de nós uma urgente e corajosa conversão quanto ao modo que estarmos participando de nossas celebrações.
A Liturgia por nós assim compreendida e celebrada, faz o nosso coração pulsar de alegria. O coração da liturgia – Mistério Pascal – permite ao fiel experimentar hoje a graça de Cristo quando “vencendo a corrupção do pecado, realizou uma nova criação. E destruindo a morte, garantiu-nos a vida em plenitude” (Prefácio da Páscoa IV). Assim seja, amém!
REFERÊNCIAS:
ARANDA, Alberto. A dinâmica celebrativa. In: CELAM. Manual de liturgia I: A celebração do mistério pascal – Introdução à celebração litúrgica. 2. ed. São Paulo: Paulus, 2004. 84-88 p.
CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. São Paulo: Loyola, 2000.
CONCÍLIO ECUMÊNCIO VATICANO II. Constituição Dogmática Sacrosanctum Concilium sobre a Sagrada Liturgia. 11. ed. São Paulo: Paulinas, 2011. 74 p.
CONGREGAÇÃO PARA O CULTO DIVINO. Missal Romano. São Paulo: Paulus, 1992. 1087 p.
ROSAS, Guillermo. O que celebramos? In: CELAM. Manual de liturgia I: A celebração do mistério pascal – Introdução à celebração litúrgica. 2. ed. São Paulo: Paulus, 2004. 89-117 p.
CÉSAR, Danilo. O sentido da liturgia: fé e esperança e amor. In: Revista de Liturgia. São Paulo, 2015. 10-11 p.
Wallace Andrade Teixeira
III ano de Teologia
Vale a pena conferir:
https://dioceseleopoldina.com.br.br.br/formacoes/a-eficacia-da-formacao-liturgica/