Apraz pensar sobre o terceiro qualificativo da Igreja que é sua catolicidade. Este atributo precisa ser bem esclarecido para que haja, como efeito, uma correta compreensão do termo para não significar exclusivismo de um grupo ou ainda algo de confessional que existe em detrimento de outros.
Essa nota eclesiológica é constitutiva da natureza mesma da Igreja, sobretudo no que tange à sua identidade mais própria, ou seja, à sua essência mesma. É preciso refletir teologicamente sobre esse atributo e compreender seu verdadeiro significado.
A catolicidade da Igreja não é sinônimo de exclusivismo confessional, segregação de um grupo em relação a outro. Esse termo indica plenitude, universalidade, indica que a Igreja é una em todo o mundo. A catolicidade da Igreja vem da Trindade. É na força do Espírito Santo que ela se faz católica e assim existe no mundo, sem ser do mundo.
“Aplicado à Igreja, o termo aparece pela primeira vez pelo ano de 110 com Inácio de Antioquia: onde aparece o bispo esteja a comunidade, da mesma forma que onde está Cristo Jesus está a Igreja católica” (FEINER, LOEHRER, 1976, p. 110). Nesse sentido, a relação com o bispo está intimamente ligada ao ser católico da Igreja.
Os mesmos autores ainda colaboram “desde o começo, os cristãos, mesmo quando não passavam de pequenos grupos dispersos, tiveram a consciência de pertencer a um corpo único de extensão universal; havia irmãos em todo o mundo e com eles formava-se um mesmo povo, uma mesma família” (FEINER, LOEHRER, 1976, p. 111).
É significativa essa citação, pois indica que a ideia de catolicidade já era presente desde sempre. A catolicidade consiste numa totalidade, cujo fundamento é a identidade e cuja consequência é a universalidade, daí conclui-se que ser católico implica um ideia totalizante, abrangente que vai além dos dados estreitos e fechados.
“A humanidade é cósmica, isto é, ligada ao universo total, e histórica, enquanto perpétuo dinamismo de busca e realização. Assim, Cristo plenifica o cosmo e a história, por meio da Igreja católica (cf. Ef 4,8;3, 8-12). Por isso, o novo Povo de Deus é necessariamente um povo católico” (xxxxxxx. p. 123).
Vale, com efeito, considerar ainda a opinião do mesmo autor(xxxxx). p.123) “ A Igreja não é católica, senão em virtude duma identidade totalizante: não obstante todas as mudanças de tempos e formas- mudanças perpétuas e necessárias-, não obstante a sua imperfeição e fragilidade, a Igreja é, deve ser e quer ser, sempre, em todas as partes e em todos os tempos, essencialmente idêntica a si mesma; deste modo, a única e mesma essência da Igreja é conservada, confirmada e manifestada com credibilidade por todos os tempos e sempre por toda parte”.
Com efeito, é possível entender que ao dizer Igreja católica não está se referindo a um pequeno grupo, mas sim à dimensão de plenitude, ela é católica enquanto participante da vida de Cristo mesmo, como afirma o cardeal Kasper (2012, p. 230): “Jesus Cristo é a plenitude e a Igreja é católica na medida em que ela participa dessa plenitude”.
O mesmo cardeal com razão afirma: “por tanto, catolicidade da Igreja, por um lado, é dom de Deus em Jesus Cristo e no Espírito Santo; por outro lado, ela é uma atribuição pela qual a Igreja tem de ir em busca da sua própria catolicidade pela via da missão e tem de realizá-la concretamente. A catolicidade essencial à Igreja tem, desse modo, um dimensão escatológica. A catolicidade é o acontecimento antecipado da plenitude escatológica na particularidade da História não plenificada. A catolicidade não é nenhuma realidade estática, mas uma realidade dinâmica. Na história, a Igreja sempre fica aquém da sua própria plenificação” (KASPER, 2012, p.235).
Essas palavras de Dom Kasper iluminam a consciência para pensar o ser católico da Igreja, característica essa própria do Espírito Santo que a faz ser universal. Daí a necessidade sempre nova e urgente da Igreja de ser missionária, anunciadora da Palavra e levar o Evangelho todos os cantos do mundo.
A abrangência da Igreja faz com que o dinamismo missionário pulse em suas veias e sempre mais seja uma Igreja em saída, não fechada em si mesma nem tampouco inerte em relação aos sinais dos tempos. Ela é católica, e, por ser assim, ela tem a imperiosa missão de anunciar o Evangelho, levar Jesus a todos os homens e ao homem todo.
ALESSANDRO TAVARES ALVES
Seminarista – III DE TEOLOGIA
Feiner; Johanes; LOEHRER, Magnus. Mysterium Salutis: Compêndio de dogmática histórico-salvífica. Vol 3. Petrópolis: Vozes, 1975.
HACKMANN, Geraldo Luiz Borges. A amada Igreja de Jesus Cristo: manual de eclesiologia como comunhão orgânica. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2003.
KASPER, Walter. A Igreja Católica: essência, realidade, missão. São Leopoldo: Unisinos, 2012.