O Concílio Ecumênico Vaticano II foi um acontecimento marcante na vida da Igreja e mudou o rumo de sua história. É a Igreja questionando a si mesma e sua relação com o mundo e com os sinais dos tempos. Todas as dimensões da Igreja foram abordadas, vale, nessa perspectiva destacar aqui a ênfase que o concílio deu aos religiosos e religiosas na Sagrada Constituição Dogmática Lumen Gentium.
Um capítulo inteiro foi dedicado aos religiosos na constituição dogmática, trata-se do capítulo VI, antecedido pelo capítulo que aborda a vocação universal à santidade na Igreja e sucedido pelo que aborda a índole escatológica da Igreja. A posição ocupada pelo capítulo dedicado aos religiosos é muito importante, haja vista a consideração dada pelos padres conciliares ao tema.
Os padres sinodais destacaram quatro importantes temas para contemplar a vida religiosa que são: os conselhos evangélicos,a natureza e importância do estado religioso,a autoridade da Igreja e estado religioso e a grandeza da consagração religiosa, culminando com uma exortação à perseverança.
Os conselhos evangélicos são abordados como dons divinos distribuídos para o serviço à Igreja, marcados por profunda alteridade, assim, a Igreja os reconhece como necessários e indispensáveis a toda vida consagrada, por possuir um caráter testemunhal e de serviço ao Povo de Deus. Os conselhos “são um dom divino que a Igreja recebeu do Senhor e com sua graça conserva perpetuamente” (LG 43).
A constituição ressalta o valor inestimável dos religiosos e religiosas na vida da Igreja, como afirma no artigo 43
tal estado, no plano divino e hierárquico da Igreja, não é estado intermédio entre a condição clerical e laical: mas de uma e de outra chama de Deus alguns fieis a constituírem este dom especial na vida da Igreja e a ajudarem-na, cada um a seu modo, no desempenho da sua missão salvífica.
Ao se referir à natureza e a importância do estado religioso, a constituição esclarece a missão desempenhada pelos religiosos e a contribuição deste estado na vida e na missão da Igreja. Salienta que os conselhos evangélicos são condição de possibilidade para a existência do estado religioso, marcado sempre de novo pelos votos proferidos pela individualidade daqueles e daquelas que se dedicam ao divino serviço integralmente.
Eles se consagram inteiramente a Deus e à Sua Igreja, “esta consagração será tanto mais perfeita, quanto mais firmes e estáveis são os vínculos com os quais é representado Cristo, indissoluvelmente unido com a Igreja, sua esposa. Uma vez que os conselhos evangélicos, mediante a caridade a que levam, unem de maneira especial à Igreja e ao seu ministério os que o seguem, importa que também a sua vida espiritual se consagre ao bem de toda Igreja (LG 44).
Esse estado religioso faz parte da vida da Igreja e da sua santidade, mesmo não estando integrado na hierarquia, mas contribui eficazmente para o desenvolvimento de sua ação pastoral. Ainda, com efeito, evidenciam a manifestação do Espírito Santo na Igreja. Os religiosos, por sua consagração expressam essa peculiaridade.
Os religiosos são parte integrante da Igreja e se destacam pelo serviço ao mundo, sendo instados a preservar a santidade. Eles, cada um segundo seu carisma, zelam pela Igreja em seu serviço apostólico. Auxiliam na evangelização e desempenham a ação pastoral da Igreja nas paróquias e comunidades e são reconhecidos por isso.
Sobre a autoridade da Igreja e estado religioso a sagrada constituição aponta a frutuosa relação entre a hierarquia e os religiosos, mesmo não constituindo a hierarquia os religiosos estão sob a autoridade da Igreja, haja vista que estão ligados a uma Igreja local sob a autoridade do bispo.
Assim afirma a sagrada constituição
a Igreja, com a sua aprovação, não só eleva à dignidade de estado canônico a profissão religiosa, mas também a apresenta, na sua ação litúrgica, como estado consagrado a Deus. Com efeito, a própria Igreja com a autoridade que Deus lhe comunicou, recebe os votos dos professos, impetra para eles o auxílio da graça divina com a sua oração pública, recomenda-os a Deus e dá-lhes uma benção espiritual, associando a oblação deles ao sacrifício eucarístico (LG 45).
A grandeza da consagração religiosa marca positivamente a vida da Igreja e a edifica, pois, com sua entrega radical, os religiosos e religiosas mostram com clarividência o itinerário de Jesus Cristo, na pessoa de seu fundador imitam a Cristo no mundo.
Enfim, como afirma o artigo 46 da Lumen Gentium este sagrado concílio encoraja e louva esses homens e mulheres, religiosos e religiosas, que, nos mosteiros ou nas escolas e hospitais, ou nas missões, honram a esposa de Cristo pela fidelidade constante e humilde à sua consagração, e prestam a todos os homens generosos e variadíssimos serviços.
A Igreja toda louva o seu esposo pela existência essas pessoas em seu seio que a dignifica no mundo e a fazem ser sempre de novo o sacramento de salvação, lembrando ao mundo, aos homens a Bondade de Deus e sua atuação na história da qual é Criador e Guia.
LOPES, Geraldo. Lumen Gentium: texto e comentário. São Paulo: Paulinas, 2011.
ALESSANDRO TAVARES ALVES
III Ano de Teologia
