Somos assolados com notícias tristes constantemente. Recentemente mais uma criança morreu em uma região pobre, fruto de um tiro que a vitimou em seu oitavo no de vida. Esse fato já se soma a tantos outros desastres que não mais sensibilizam o coração humano, mas faz expressar dolorosamente: “ah, mais um caso, mais uma morte”. Esses fatos não deveriam virar números, não se converte um ser humano em estatísticas.
É preocupante a degradação dos sentimentos, valores, do cuidado cada vez mais escasso do comportamento humano. A naturalização da violência externada pela expressão “ah, mais uma vítima!” e ficar tudo por isso mesmo até quando ocorrer a próxima. Quem roubou a segurança de viver? Quem criou o caos interior que se exterioriza em formas de violência, maldade, desumanidade? A desesperança de não mais se esperar coisas boas dos seres humanos? Não se sabe mais de quem se tem medo. Não se sabe mais quem ‘protege’.
Jesus enfrentou a morte, enfrentou a angústia da impotência do amor e a dureza de corações que não se permitem serem amados. Dói imaginar o desconsolo de mães que choram, sofrem a morte inocente de um pequeno ser humano que não era militar, não era traficante, não era usuário, apenas estava correndo o risco de viver naquele lugar. E não chega em casa viva, qual o motivo de sua morte? Os outros? As culpabilizações não a farão reviver. Nem ela nem os outros que, pelo mesmo motivo, já morreram. Por que deixar a maldade ocupar a vida e não a bondade? Falta o Evangelho, mesmo sobrando igrejas. Sobra igreja e falta Deus.
É necessário reforçar o pensamento do Cardeal Arns (in memorian): “o segredo da vida é caminhar de esperança em esperança”. Mesmo diante dos desencontros da vida, das escuridões que não permitem enxergar a saída, da dor que entala a garganta e insiste em não descer. Ao olhar para essas mães, que a exemplo de Maria, choram por seus filhos, vem à mente as palavras da Sagrada Escritura “Uma voz foi ouvida em Ramá, choro e grande lamento: é Raquel que chora seus filhos e não quer ser consolada, porque já não existem mais” (cf. Jr 31, 15).
É preciso reeducar o coração para a paz, confiar no amor artesanal de Deus, deixar-se refazer por Ele. Apostar na bondade. O coração humano é buscador da paz, buscador de Deus, necessitado e carente do amor que vem do céu. Que seja o amor a preencher a nossa vida e não a violência, não o choro, não a lástima. Que Deus conforte e Maria ampare aqueles que perderam seus filhos por aqueles que banalizam a vida e se esquecem de sua inviolável sacralidade.
Pe. Alessandro Tavares Alves
Diocese de Leopoldina