Semana Santa: itinerário de reconstrução espiritual.
É tradicional aos cristãos católicos a celebração fervorosa da semana santa. Momento intenso de espiritualidade para que, olhando os passos de Jesus, aprendamos também a enfrentar a grande via-sacra de nossa existência. É o momento fundamental para que nosso coração se una ao coração crucificado e machucado de nosso Mestre, para que, como efeito de entendimento, convençamo-nos de que o sofrimento não é a última palavra, não é a coroação da vida, mas sim a ressurreição. Alegria que precisa ser conservada no coração de cada discípulo.
Cada passo de Jesus traduz os nossos passos, a cruz Dele é a nossa cruz, Ele é o Caminho a ser percorrido por todos nós. Todo o itinerário de nossa espiritualidade é compendiado no tríduo pascal, ápice de toda a semana santa esse fato revela que a existência humana é uma constante oscilação entre a sexta-feira da paixão e o domingo da ressurreição. A semana maior de nossa fé é uma reconstrução da vida interior.
É o momento adequado de revisitar os sentimentos, afiná-los aos de Jesus de Nazaré que ofereceu à existência seu verdadeiro sentido e significado. Caminhamos das dores para a alegria eterna. Este fato consola o coração e gera felicidade. Cada momento que for meditado com agudez de consciência produzirá frutos espirituais imensuráveis e de valiosa consequência na vida do crente.
Santo Agostinho define esse momento da vida de Jesus como a plenitude do amor. Assim se expressa o santo: “irmãos caríssimos, o Senhor definiu a plenitude do amor com que devemos amar-nos uns aos outros, quando disse: “Ninguém tem amor maior do que aquele que dá a sua vida pelos amigos (Jo15,13). Daqui se conclui que o mesmo evangelista João diz em sua epístola: Jesus deu a sua vida por nós. Portanto, também nós devemos dar a vida pelos irmãos (1 Jo 3, 16), amando-nos verdadeiramente uns aos outros, como ele nos amou até dar a sua vida por nós””.
As palavras do santo são esclarecedoras no que concerne a reconstrução interior a partir da semântica presente em cada momento da semana santa. Significa que reconstrói a inteligência e a aguça para lidar com seus desafios.
Com efeito, é preciso ressaltar que não estamos sozinhos neste momento doloroso. Maria, mãe de Deus e nossa nos acompanha com olhar piedoso. Sobre ela afirma São Bernardo, abade: “aliás, tu quem és ou de onde tua sabedoria, para te admirares mais de Maria que compadecia, do que do filho de Maria a padecer? Ele pôde morrer no corpo; não podia ela morrer juntamente no coração? É obra da caridade: ninguém a teve maior! Obra de caridade também isso: depois dela nunca houve igual”.
Enfim, é preciso dedicar-se a este grande instante de nossa fé. É preciso celebrar até a alegria da páscoa do Mestre que é também a nossa páscoa. Sobre essa alegria afirma São Máximo de Turim, bispo: “Portanto, irmãos, todos nós devemos alegrar-nos neste santo dia. Ninguém se exclua desta alegria universal, apesar da consciência de seus pecados; ninguém se afaste das orações comuns, embora sinta o peso de suas culpas. Por mais pecador que seja, ninguém deve neste dia desesperar do perdão. Temos a nosso favor um valioso testemunho: se o ladrão arrependido alcançou o paraíso, por que não alcançaria o cristão a graça de ser perdoado?”
Firmemos um compromisso com o Senhor, para revisitarmos seu itinerário e, nele, observar o nosso itinerário. Modificando-o conforme a vontade do Senhor. Deus nos acompanhe e possibilite, pelo carinho de Maria, a cada um de nós, uma santa páscoa.
Bibliografia
Santo Exercício da Via-Sacra com meditação dos Padres da Igreja. São Paulo: PAULUS, 2017.
Padre Alessandro Tavares Alves
Diocese de Leopoldina