O papa Francisco, após o término do Sínodo dos Bispos sobre a família, apresentou a Exortação Apostólica sobre o Amor na Família. Após as discussões sinodais de grande riqueza, tendo ouvido todas as dioceses e Conferências Episcopais do mundo todo, o Pontífice então apresentou suas conclusões.
O texto está dividido em nove capítulos, a saber: à luz da Palavra; a realidade e os desafios; o olhar fixo em Jesus: a vocação da família; O amor no matrimônio; O amor que se torna fecundo; Algumas perspectivas pastorais; Reforçar a educação dos filhos; Acompanhar, discernir e integrar a fragilidade e Espiritualidade conjugal e familiar.
Esse texto, com a finalidade de um primeiro entendimento, abordará em duas partes, as ideias centrais de cada capítulo, não aprofundando sua teologia e não esgotando seu significado.
O pontífice orienta a leitura continuada do texto, não penas ler aquilo que mais chama a atenção, mas dedicar-se ao itinerário proposto e estabelecido pela própria exortação. Ele compreendeu que o caminho sinodal permitiu uma averiguação da situação das famílias em várias partes do mundo. Nesse sentido, ele elaborou esse texto, conservando, sobretudo, sua sinodalidade e catolicidade.
- À luz da Palavra
O Papa inicia por uma abertura inspirada na Sagrada Escritura, ele quer olhar cada situação de cada família sempre pelo horizonte da fé, amparado na teologia bíblica, para dessa forma, compreender melhor as realidades de hoje. Ao contemplar o modelo de família narrado pelo texto bíblico, ele encontra inspiração para observar as famílias de hoje.
Desde os primeiros pais ele percebe a grande história de amor contida ali e reforça o pedido para que cada família renove seu ser e sua condição a partir da Sagrada Escritura que sempre orienta e indica o melhor caminho. O Papa recorda a necessidade do encontro que cura qualquer solidão e gera a família. “Deste modo, evoca-se a união matrimonial não apenas na sua dimensão sexual e corpórea, mas também na sua doação voluntária de amor” (AL 13).
Nesse mesmo contexto, afirma o pontífice “nesta breve resenha, podemos comprovar que a Palavra de Deus não se apresenta como uma sequência de teses abstratas, mas como uma companheira de viagem, mesmo para as famílias que estão em crise ou imersas em alguma tribulação, mostrando-lhes a meta do caminho, quando Deus enxugar toda lágrima dos seus olhos” (AL 22).
Francisco relata que cada família tem sempre como horizonte a família de Nazaré, com o seu dia a dia feito de fadigas e até de pesadelos (cf. AL 30). Assim o Papa chama a atenção para contemplar a história da salvação e encontrar nela a saída para os grandes desafios das famílias de hoje.
- A realidade e os desafios das famílias
O segundo capítulo aborda o hoje das famílias, o Papa diz não ter a pretensão de apresentar tudo o que poderia ser dito sobre os vários temas relacionados com a família nos dias atuais (cf. AL 31), isso devido à amplitude da questão. Mas, ele oferece a conclusões dos padres sinodais e a profundidade de suas conclusões.
Entre alguns desafios atuais o Pontífice enumera: individualismo, o ritmo da vida atual, fuga de compromissos, confinamento no conforto, arrogância, o fenômeno das migrações, a efemeridade nos compromissos, etc. Nesse ínterim, afirma o Papa: “se estes riscos se transpõem para o modo de compreender a família, esta pode transformar-se em um lugar de passagem, aonde uma pessoa vai quando lhe parecer conveniente para si mesma ou para reclamar direitos, enquanto vínculos são deixados à precariedade volúvel dos desejos e das circunstâncias” (AL 34).
O Pontífice ainda alerta que “uma coisa é compreender a fragilidade humana ou a complexidade da vida, e outra é aceitar ideologias que pretendem dividir em dois os aspectos inseparáveis da realidade” (AL 56). Nesse sentido, Francisco pede sempre para não se perder a esperança, mesmo diante de um grande número de desafios, que, por vezes, gera sofrimento.
- O olhar fixo em Jesus: a vocação da família
Neste capítulo, Francisco pede para que as famílias contemplem Jesus de Nazaré e compreendam Nele a beleza da vocação de ser família. O maduro relacionamento familiar expressa a relação mesma da comunhão trinitária. A família de Nazaré, cuja figura central é Jesus deve ser sempre o horizonte a ser observado durante todo o itinerário familiar.
Francisco é enfático ao afirmar que “a Encarnação do Verbo em uma família humana, em Nazaré, comove com a sua novidade a história do mundo. precisamos mergulhar no mistério do nascimento de Jesus e no sim de Maria” (AL 65). E ele ainda continua dizendo que “Este é o mistério do Natal e o segredo de Nazaré, cheio de perfume de família” (AL 65). Após esta constatação o Pontífice traça um itinerário sobre a família nos documentos da Igreja, salientando, sobretudo, o sacramento do matrimônio.
Nesse mesmo itinerário ele faz a relação entre as situações imperfeitas e as sementes do verbo. O Papa afirma que: “na perspectiva da pedagogia divina, a Igreja dirige-se com amor a quantos participam na vida dela de modo imperfeito: invoca com eles a graça da conversão, encoraja-os a realizar o bem, a cuidar com amor um do outro e pôr-se a serviço da comunidade na qual vivem e trabalham” (AL 78).
Nesse aspecto, o Papa aborda a frutuosa relação que as famílias devem ter com a Igreja e a Igreja com as famílias, a reciprocidade é o vínculo unitivo entre eles e ambas fazem muito bem umas as outras.
- O amor no matrimônio
Este capítulo, um dos mais longos, apresenta o pensamento do Papa Francisco sobre aquilo que é essencial ao matrimônio que é o amor, o Papa por longas páginas discorre sobre as formas de estabelecer relações saudáveis e enriquecidas sobretudo, com o teor e o vigor espiritual.
O amor é o dom indispensável, só ele justifica a união, ele impele o homem a unir-se, abre-lhe os olhos para desvincular-se da solidão e abraçar o outro em um gesto de ternura. Com efeito, a esponsalidade é expressão máxima disso e por isso Francisco insiste em mostrar o caminho. Para ele “o verdadeiro amor aprecia os sucessos alheios, não os sente como ameaça, libertado-o do sabor amargo da inveja. Aceita que cada um tenha dons distintos e caminhos diferentes na vida; e, consequentemente, procura descobrir o seu próprio caminho para ser feliz, deixando que os outros encontrem o deles” (AL 95).
O Papa, a partir do Hino ao Amor, do Apóstolo São Paulo, tece uma série de indicativos para a convivialidade conjugal, fator que exige um acompanhamento paciente de cada casal que procura o matrimônio com finalidade de vida. Francisco ainda afirma que “o amor pelo outro implica este gosto de contemplar e apreciar o que é belo e sagrado do seu ser pessoal, que existe para além das minhas necessidades. Isto permite-me procurar o seu bem, mesmo quando sei que não pode ser meu ou quando se tornou fisicamente desagradável, agressivo ou chato” (AL 127).
O Papa aposta no amor acima de tudo como sustentáculo de qualquer relação e diz “semelhante opção pelo matrimônio expressa a decisão real e efetiva de transformar dois caminhos em um só, aconteça o que acontecer e contra todo e qualquer desafio” (AL 132).
- O amor que se torna fecundo
Nesse capítulo o Papa Francisco aborda as consequências do amor conjugal que são os filhos. O Romano Pontífice encoraja aos pais a terem filhos e também àqueles que não têm condições biológicas e terem filhos ele indica: “a adoção é um caminho para realizar a maternidade e a paternidade de uma forma muito generosa, e desejo encorajar os que não podem ter filhos a alargar e abrir o seu amor conjugal para receber quem está privado de receber um ambiente familiar adequado. Nunca se arrependerão de ter sido generosos. Adotar é o ato de amor que oferece uma família a quem não tem” (AL 179).
Essas palavras do Papa são alimentos para a vida conjugal e consolo para os casais que sofrem com a esterilidade ou algum outro tipo de impedimento dessa natureza.
Com efeito, o Pontífice aborda ainda as várias dimensões de uma família, como, por exemplo, os filhos, irmãos, pais, mães e idosos. Ele pede uma amorosa integração e que se evite o descarte, sobretudo, dos idosos. A fecundidade é o carinho de Deus e alegra a mãe Igreja quando é vivida com intensidade e responsabilidade.
Na segunda parte desse texto serão abordados os capítulos restantes, nos quais o Papa se dedica a uma intensa avaliação pastoral e faz suas indicações de pastor supremo.
ALESSANDRO TAVARES ALVES
IV ANO DE TEOLOGIA
