A Igreja é indefectivelmente santa, já afirma a Constituição sobre a Igreja em seu número 29. Com efeito, isso se concretiza naqueles e naquelas que a constituem e fazem dela a Igreja de Jesus de Nazaré. Escrever sobre Madre Teresa chega a gerar uma dor de quase angústia. Ela foi pequena demais, ‘escondeu-se’ demais, tanto que só Jesus aparecia, na pobre figura dela, apenas resplandecia Ele.
Teresa de Calcutá é o ícone do silêncio, sacramento dos pobres, carinho de Deus para com os mais frágeis. Ela foi hospitalidade pura, Jesus morou em seu coração, bem como nos seus abrigos. Jesus morou no abraço de Madre Teresa, morou no seu sorriso, no seu carinho. Ele foi a força dela, uma vez que humanamente ela não tinha nenhuma. Ele a amou como a mais singela das criaturas, a mais insignificante aos míopes olhos humanos.
É difícil escrever sobre ela, escapa a qualquer frase, qualquer teoria. O grande abrigo construído por Madre Teresa, o grande abrigo feito por ela, foi seu coração. Ali cabiam todas as pessoas, ali cabiam os pobres, ali coube Jesus. O coração da Santa de Calcutá foi uma eterna manjedoura. Ela é a expressão do quanto o amor de Deus é artesanal, do quanto Deus mesmo constrói quem se entrega a Ele.
Ela preferiu os preferidos do Pai. Ela via Jesus em todas as pessoas. Ao olhar para Santa Teresa, o coração sempre interroga: o que Deus pode fazer com um pobre ser humano? Olhando para ela, as palavras de Jesus ganham sentido, quem se humilha será exaltado. Calcutá foi lugar de profecia. Ela foi o anúncio, ela foi o incômodo, não teve medo. Deus mesmo a encorajava. Ele a amava. Ele a queria. Ele a teve.
Madre Teresa exerceu o sacerdócio da maneira mais genuína, ela sacrificou-se, realizou-se dessa forma. O sacerdócio é um sacrifício daquilo que se é e não daquilo que se tem. Nesse aspecto, o sacerdócio consiste em eliminar os obstáculos para que Deus se aproxime, em abrir-se às necessidades humanas e em dar vida ao ser humano. É um sacerdócio como estilo de vida, que torna vulneráveis os que vivem na miséria humana. o sacerdote é o que dá motivos para crer em Deus, para esperar, viver e lutar, a Santa de Calcutá foi assim.
Observando Jesus, percebe-se que seu sacerdócio trata-se de um sacerdócio de empatia com o sofrimento, em que a própria dor não enrijece, não causa amargura, nem leva a pessoa a fechar-se sobre si mesma, isto é, não desumaniza; pelo contrário, torna-a mais sensível ao padecimento alheio. Por isso o sacerdócio não é uma forma de existência. Leva a sacrificar possibilidades e interesses em função dos outros, que é o contrário da paixão pelo poder. Pelo contrário, trata-se de sacerdotalizar a vida toda, de atualizar o reinado de Deus no mundo. Teresa de Calcutá foi assim.
Dessa forma, o mais sacerdotal é o mais humano, pois Cristo é sacerdote por ter sido um verdadeiro homem, e é fiel a Deus na medida em que se entregou aos demais. O sacerdócio de Cristo é existencial, é para a vida inteira, ou melhor, é a vida inteira daquele que se entrega e Santa Teresa se entregou.
Ela é um grande exemplo de sacerdócio, de um amor verdadeiro, contagiante. Ela hospedou Jesus, foi hospital para Ele, foi afago divino, cuidado do céu. Conquistada por Deus, conquistou os homens. Ela refletia o sorriso que vem do céu. Dilata qualquer coração. Fez poesia com cada ferida. Ela foi amada, por isso amou. Madre Teresa não falou de amor, Madre Teresa amou. Amou com suas entranhas, ela não decepcionou Jesus. Ela, simplesmente, foi um sorriso Seu, onde só havia dor e choro. Nela, Jesus tocou a carne de cada um. Nela, Ele renovou seu amor pelo ser humano. Santa Teresa de Calcutá, Rogai por nós.
ALESSANDRO TAVARES ALVES
IV ANO DE TEOLOGIA